Tristeza em amor
Tristeza,
Não me dissestes
Que já vai embora?
Não a procurei.
De fato, nunca a procurei,
E tu insistes em em mim
Buscar razão.
Já não me dissestes, então,
Que, senão agora,
Já te ia esvair-se embora?
É que canso de aqui lha ver -
Ou já não vês que meu ser já não te enjeita, coração? -
Busca-me agora,
Como quem quer um consolo,
Mas não tens em mim
Senão falso tolo:
Não te desejo,
Apenas amo a sensação.
Ser em ti, em abstrato, é viver.
Ou dirás a todos, agora, que nunca lha transformei?
Amiga, de certo lhe transformei.
Como ontem – lembra-se, o ontem? -;
Já você, de ontem, hoje é amor.
E de amor viverei então, querida tristeza,
Não que lhe veja apenas em torpeza:
É que busco, agora, outra emoção.
Então vá agora – sim, já agora!
Em outro tempo, quem sabe?
És suficiente em ti mesma,
Contudo esperarei,
Pois sei que de ti hei de precisar – e quem dirás que não precisarás tu de mim, também? -
Já que necessito crescer,
Pois respirar-te é crescer, já que necessário é transformar
- Não mudar, transformar -.
Sem ti, fatalmente tudo seria difícil...
Pois se tudo belo, muito, muitíssimo difícil!
Sem dúvidas, em ti há, de sobra, razão.
Mas vai, tristeza,
Pois já agora não me preenches;
Já agora és outro ente;
Já agora o amor, de todo, se apoderou de mim,
Em sublimação.