Houve um tempo...
Houve um tempo que éramos dois em um. Um tempo de
realizações a dois, de presença continua, constante, claro,
respeitando mutualmente nossos espaços. Íamos ao teatro,
ao cinema, a encontros com os amigos, saraus, viagens,
festivais. Adorávamos o nosso "tour" pela cidade, visitando os
artistas locais em seus ateliês; as lojas de artesanato e
almoçávamos no mesmo restaurante, aos sábados, não sem
antes tomarmos uma cerveja preta e, após o almoço, ainda
ficávamos por lá, até à tardinha, tomando um sorvete, coca-cola,
e conversando, conversando, conversando... Lembra quando
ficamos, um dia, conversando mais de oito horas diretas?
Tínhamos o fulgor das grandes paixões... andávamos sempre
de mãos dadas e você se encantava com a minha preocupação
de nunca deixá-la à beira da rua. Eu sempre a protegia.
Houve esse tempo. Um longo tempo, aliás, onde você fez
muito por mim, me ensinou a ter calma, a não ser impulsivo, a
não me deixar dominar pela carência, a ouvir muito mais do que
que falar e tantas outras coisas, que lhe sou eternamente grato,
e só peço a Deus, em minhas orações, para lhe proteger sempre
e fazê-la feliz. Você merece.
Houve esse tempo. E eu fiz muito pouco por você. E o que,
realmente, eu acredito que eu tenha feito e bem, foi deixar você
ir. Deixá-la livre e apesar da dor, na época, e das críticas e
incompreensões, hoje, eu percebo, que foi o que melhor eu fiz
para você, pois, na realidade, eu sempre quis que você fosse
feliz e só livre você conseguiria. Considere-se, coração...