DA EXISTÊNCIA
Apavora-me saber que um dia eu não existia, existo hoje e um dia não existirei mais. Sou algo entre dois nadas. Sou o clarão do relâmpago entre duas escuridões. Ou será uma única escuridão onde aparece um flash instantâneo de luz? (Flash de luz é pleonasmo, mas foi assim que veio – então deixo o pleonasmo).
Então já não me apavoro, pois, num átimo de tempo eu sou um facho de luz. Um átimo de tempo...
Mas o que é o tempo? Fala-se que o passado não importa porque não é mais, e que o futuro não importa porque ainda não é, e não se sabe se um dia será. Sobra o presente.
Mas o que é o presente senão a continuação do passado e a gestação do futuro? Se é assim, então o presente não existe? Filósofos dizem que o tempo é intermitente. Será? Ou ele é um só fio, ininterrupto, como a água que desce o rio? Pode-se dizer que a gota d’água da nascente é mais importante que a gota da foz?
Um dia, a gota da nascente será uma gota da foz. E evaporará, e cairá como chuva, e retornará à nascente, no interminável ciclo da água.
Mas, e a vida do tempo? Será também cíclica, ou será como a reta, sem princípio nem fim?