[Eles Chegaram — Eu não!]

[Visão do Arraial de Nem Ser]

Sonhar, não sonham mais, já que nem há mais matéria para sonhos. Eles chegaram. Sim, chegaram onde estão agora, e deram por encerradas as possibilidades de partir, ou seja, chegaram meesmo!

Dali, só para o cemitério... Por sinal, alguns deles, se pudessem, escolheriam morar parede-meia com o muro do "Campo Santo", que é para facilitar o traslado corpo promovido, enfim, de vivo-morto a morto-morto [mesmo]!

Eles nunca saem de suas cotidianidades, nunca interrompem seus hábitos, nunca saem de suas moradas, e esperam sempre que os outros, inclusive os parentes de quem juram sentir saudades, venham até eles.

Enfim, depois de uma alegada luta que nem foi tão luta assim, eles chegaram. Nada mais querem, nada mais esperam. Chegaram mesmo... Nada, ninguém, nunca... Assim como não veio ontem, ninguém virá hoje, amanhã ou depois... Passado, Presente e Futuro: um colapso do Tempo!

E no entanto, eu que passo pela estrada ao lado, olho essas vidas sem latência, as casas pacatas, tocadas de uma perenidade calma, e confesso: sinto uma inveja da vida estacada no lugar.

Cansado do meu desassossego, imagino que talvez eu pudesse, enfim, descansar ali... Que eu pudesse deter aquele trem noturno que me leva pelos cinzentos chapadões enluarados rumo a um Goiás que não mais existe...

De tanto contemplar as corredeiras do Paranaíba na minha infância, eu dei de sonhar esta fixação: o noturno trem da minha inquietude sai da Minas [que não vai ser mais] e ruma, sem cessar, para o Goiás [que não mais existe] — Por que, por que?! Não sei, não sei não!

Também, por que eu iria me interessar por respostas... se eu nunca vou chegar?!

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[Desterro, 15 de julho de 2012]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 15/07/2012
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