ALVORADA

Vejam o rebento,

sob aplausos e rojões,

a voz grave se precipitou

sobre a multidão

E mais e mais vivas,

mesmo à mais longínqua distância

ninguém calou-se às boas vindas

E era, já passadas noites e dias,

sob tensas e tenebrosas noites

que o tão aguardado momento,

naquele dia inesquecível,

que todos vibravam aquela chegada

Os tempos prometiam ser vindouros,

as esperanças renovadas

e os sonhos possíveis

Aquele dia, desejado por anos de luta

e de perdas durante a caminhada,

aquele dia ficaria para sempre

Os campos e as cidades

eram tão iguais

que só o apito da composição,

anunciando sua chegada,

lembrava que estávamos

na parte urbana do território

Ninguém vislumbrava fronteiras;

a guarda, que noutros tempos,

servira ao caudilho,

tomada da emoção coletiva,

e desrespeitando o juramento

de manter a ordem, mesmo que à bala,

a guarda despiu-se em público

e queimou, numa fogueira onde antes

arderam livros e bandeiras,

lá crepitaram os uniformes e suas insígnias

E sobre seus corpos,

o manto da luta pela igualdade foi colocado

Agasalhados do frio

e alimentados com o pão,

dos seus rostos, e alguns em frenéticos soluções,

viu-se as lágrimas de felicidade

Eis o rebento!,

gritou a grave voz

LIBERDADE!,

devolveu a multidão

em uníssono,

que parecia trovão,

anunciando a tempestade