A MINHA PEQUENINA JANELA
Daqui a pouco a noite vai chegar, o céu vai se apagar e a luz só se acenderá amanhã bem cedo, vai escurecer, como uma daquelas pinturas que eu fazia quando tinha três ou quatro anos, não me lembro muito bem, mais quando estava aborrecido gostava de colorir tudo com o lápis preto, cobrir todos os espaços em branco, queria que todos os monstros fossem embora, não gostava quando eles me deixavam com medo e não me deixavam dormir em paz, mais como toda criança eu tinha um truque, uma carta na manga, não gostava de nada tão sem vida, não gostava de coisas abstratas, não gostava de meias palavras, eu vivia com a boca cheia de “porquês”. E sempre queria respostas, gostava de descobertas e sempre queria poder ficar acordado até mais tarde, ficava sentado na cama do meu quarto, que ficava no sótão, lá era meu lugar favorito, a janela era pequena, porém nunca me esquecerei daquela janela encantada, de lá eu conversava com as estrelas todas as noites, tentava contá-las mais sempre acabava perdendo as contas, apesar de não saber contar mais que trinta naquela época, eu contava mesmo assim.
Mamãe e papai assistiam á novela das nove, todas as noites, não gostava muito daquele drama que eles assistiam, era muita tristeza pra minha cabecinha, eu já vi de tudo na tevê, romance, namoro, noivado, casamento, separação, briga, violência, e até mesmo sangue, fiquei apavorado aquele dia, até chorei no colo da mamãe, não gostava quando as pessoas sofriam, e não gosto até hoje, era pequeno e sempre quis resolver os problemas como gente grande, papai não gostava muito quando eu palpitava, mais eu sei se ele estivesse vivo hoje, gostaria de me ouvir, e saber que eu sou um sonhador nato e não desisto com facilidade dos meus sonhos (...)
Papai virou uma estrelinha e eu rezo por ele todas as noites da minha janela, hoje ela é maior, de frente para o mar, nunca deixei de espiar as estrelas do meu quarto, tenho esse costume até hoje, mamãe e eu nos mudamos, a velha casa não nos trazia boas lembranças, e sempre do alto da escada observava que a mamãe, chorava escondido pelos cantos, fazia alguns cartões ou colhia um rosa pra ela do quintal, as lágrimas se escondiam em um belo sorriso. Ela nunca quis que sofrêssemos, eu e a minha irmãzinha que era mais nova que eu e não entendia porque o papai foi e não voltou mais, eu pedia que ela fechasse os olhos e tentasse ver o papai, ela sempre me dizia que era muito difícil porque quando estava com os pequenos olhos fechados me dizia que era tudo muito preto, e ela não gostava do preto, deixava ela meio que desconcertada e assustada. Um dia a levei no meu quarto e a deixei espiar as estrelas da minha janela, e disse a ela: - Papai mora lá em cima agora!
Ela sempre me respondia: - Como ele foi parar lá? Subiu com um balão ou foi de foguete?
Ficava sempre sem respostas, eu que sempre ás procurava...
Hoje estamos crescidos e continuo sonhando, continuo com boas vibrações e acredito na bondade que existe nas pessoas, apesar de achar que as coisas boas estão enterradas, escondidas, camufladas, eu continuo acreditando, porque as estrelas me disseram um dia: - Você possui um grande coração, só não deixe de acreditar.