O SÁBIO SER /SOBRE VIRTUDES E VÍCIOS
-As virtudes estão fedendo,as virtudes estão fedendo!diz o sábio.Já não me compraz ser santo!Ontem as estrelas não sairam para brincar e a noite terrível caiu sobre o mundo!
Há homens que ainda esperam,como não sabem andar,esperam que os empurremos,mas ai daquele que não levantar primeiro,será rolado até o precipício!
Quem conhece as escrituras carece ainda da luz,mas aquele que não a conhece enxerga na escuridão.
-Fedem!virtudes fedem!o homem gira sobre sua cabeça,nela um corvo grasna e troca suas penas.Como não há ninho para o corvo,assim os tolos acolhem seus filhotes.
-Maldito emblema funéreo!Qualquer pio a noite soa como um sufrágio!ele,que bebeu da escuridão a sua taça mais clara,foge da luz porque nela há intrigas.
A noite na alma do homem envolve também a montanha,há muitos corvos e não há ninhos nas pedras,nem a mata densa e escura oferece abrigo,então as cidadesabrem seus portões e a noite do homem cobre os casebres onde antes ele dormia tranquilo.
-Fedem!é o que o vento gira,e a mulher se abraça aos filhos,mas os filhos procuram a noite e seus corvos.
CANTO I (Da noite no sangue)
Ouvi,fantasmas,a minha noite,
Pelos caminhos tântricos ela vagueia!
Sabe de mim a leitora de vísceras,
E mágicas poções prepara em meu crânio!
Flui no meu sangue a sua risada,
Como um mau-agouro produz um canto
E só os corvos traduzem as páginas
Que,sem respostas,deixei em branco.
Mas há de chegar antes do meio-dia,
O que meus ossos lançados sentem,
Magia,noite,a feiticeira
Procura nas cavernas os ingredientes.
Ouvi,fantasmas,seu riso tétrico,
A gargalhada a cada encontro,
Aqui meus ossos,ali minhas entranhas,
Assim se compõe a noite no sangue...
Ah!meio-dia de luz e sombras!
-As virtudes fedem!atravessa a cidade!e vai sozinha levando a noite,deixando aos homens a vantagem da luzacostuimados a luz não podem ver a virtude na escuridão...mas ai daquele acostumado ao sol,quando vier a noite ele tropeçará nas pedras que a virtude vai colocando no caminho...
E se a noite cair sobre a montanha,quem não espera levante-se e parta em busca das estrelas,mas os virtuosos que não ousam o passo,serão rolados ao precipício com seus corvos adotados!
Os homens sujaram o sol com suas virtudes!Perseguiram clarões em suas ambições,cegaram o viajante...desvia de sua rota ó pássaro míserável,somente em outros crânios achará abrigo!
Quê viria a ser do homem se ele soubesse do sol?
-Quente demais!ele diria,mas eu quero!Porque a noite se aproxima da cidade,lá ficarei rico vendendo a sua luz!
CANTO II (Final)
Eu vejo,eu vejo,posso ver!
Ali a pedra cheia de pátina!
Aqui o pássaro e arauto!
O sol!A luz!Posso ver meus olhos,
A beleza de um céu claro e brilhante!
Não temo mais a noite
Porque aprendi a enxergar na escuridão
E agora sei do sol
E vejo mais claramente!
Quem mais vê o que vejo?!
Oh!quem quer a minha verdade?!
Tudo isso o homem diz de si,enquanto a escuridão vem descendo da montanha.