ELA: AOS 15... AOS 20... AOS 25...
É impressionante as mudanças que tomam conta de nós com o passar do tempo. Verdadeiramente, o tempo é um doutor supremo capaz de modificar tudo de seu lugar.
Aos 15 anos, ela me parecia excessivamente romântica e achava, em seus sonhos pueris, que a vida lhe daria somente felicidades e prazeres, afinal, a mesma nunca faria mal a ninguém. Para ela, isto era certo. A sua lógica era de que, se ela nunca fizesse mal a ninguém, então, nunca sofreria mal e, dessa forma, seria feliz para sempre! Ou seja, as pessoas eram infelizes porque faziam mal aos outros e, assim, também recebiam o mal. Mas se ela não fizesse mal a ninguém, então, não haveria como alguém fazê-la mal. Quão pueris e rasas eram suas observações acerca dos seres humanos.
Os 20 chegaram. As dores, nessa idade, foram tão profundas e inimagináveis, foram incontáveis dissabores, tudo tão dolorido, sonhos por tantas e tantas vezes destroçados, destruídos, despedaçados. Pensar nela, no que ela viveu aos 20, ainda, causa tristeza. E por um longo tempo ela não reagiu. Na época, mesmo com pessoas adoráveis que tentavam tirá-la daquela dor provocada por outros, mas intensificada por ela, mesmo que, quisessem resgatá-la, ela, não se dava a oportunidade de voltar a viver. Seguiu em um intento absurdo de não dá amor a ninguém. Pelo contrário, decidiu que deveriam sentir exatamente a dor que ela havia sentindo, a dor que uma menina honestíssima e pura havia sentido. Havia um paradoxo que não se fazia entender em sua cabecinha teimosa e vingativa: como eu, que nunca fiz mal a ninguém estou passando por isso? Como?
Na época, era a pergunta que mais se fazia. Mas a vida também põe as coisas no lugar e, ela, voltou-se menos para sua dor e agora era necessário resgatar seus prazeres e sonhos. Era uma triste e dolorida caminhada, mas era hora de também se amar!
Os 25 chegaram. Ela está irreconhecível.
Eu a procuro e, ela, é escorregadia, está mais maleável. Consegue compreender, hoje, que sofreu, mas também magoou. Eu sei que ela se arrepende de algumas coisas... Havia coisas que não tinham necessidade de ser feitas, principalmente por motivos torpes, como, que em muitos casos o eram. Mas, isso seguia como uma transição sofrida e muito dolorida dos 20 aos 25 anos. Agora, o seu grande questionamento, aliás, a sua grande aceitação aos 25 anos é que ela não está no controle de tudo e, que, viver também implica aprender, ora através de alegrias, ora através de experiências doloridas. Ela descobre saber, sem tantas tentativas de entendimento, que não dá para ser perfeita e que, aqueles que a magoaram não fizeram isso como um objetivo, mas faziam porque, naquele momento, também aprendiam a viver. Só isso. Sem muitas explicações. Hoje, ela consegue, a si, desfazer-se de seus próprios julgamentos.
Ela vive o momento de descobertas mais profundas... Aquelas que envolvem sua posição no mundo, que envolvem o que se quer ser e ter no seu eu, aquelas que envolvem construção a partir de uma desconstrução. Este é o grande momento dela: a construção a partir da desconstrução. E tudo ainda está muito confuso. Muito incerto. Imensuravelmente sem direção. A cada pele retirada, primeiro forma a cicatriz, porque as novas ideias suplantam, a duras penas, as velhas, contudo, as velhas se vão porque não se assentam em seu ser e, assim, por não haver mais espaço de existirem, acabam por se evadirem. As novas ideias são tão perturbadoras, tão gigantescas, que causam medos estranhos, medos profundos. Quando ela me confessa tais sentimentos e pensamentos, nas noites em claro, que principiamos um diálogo, fico muda. Porque a escuto na tentativa de investigação, mas, mesmo que eu queira saber a origem de seu comportamento, mesmo que eu queira saber o porquê, agora, ela não quer mais saber de muita coisa, ela, demonstrando desinteresse, não busca respostas para minhas indagações. Eu a investigo, mas é uma investigação que certamente será fracassada, pois ela, não me dá uma única pista do que se passa em si. Eu fico assustada porque ela não me responde a contento e, ela, que se sente e está livre, sorri. Pede-me para viver, apenas isso.
A verdade é que, os 25 anos começaram agora e não sei quanto tempo durarão essas descobertas pelas quais ela passa, mas o que sei é que espero aprender com essa nova mulher que nasce.
(Texto de Isadora Mattos. Janeiro de 2003).