Devaneios

Eu sou um homem. Eu sou Deus.

Eu sou feito de duas metades.

Não as metades clássicas: uma boa e uma má.

Não Yin e Yang.

Uma um tanto boa, um tanto má; a outra, neutra.

Uma parte deseja, obtém sucesso,

Perde as esperanças e se desespera.

Outra parte não tem apetites.

Uma parte procura se instruir,

Aprender e esquecer.

Outra parte tudo conhece

e nada sabe.

Uma parte cultua o corpo, o

Sustenta e o brutaliza.

Outra parte aprecia a

funcionalidade de seu invólucro.

Uma parte sonha, se maravilha

E mergulha em depressão.

Outra parte apieda-se com os sonhos

da primeira, e indiferencia-se de

sua melancolia.

Uma parte ajuda e agride,

Salva e assassina.

Outra parte observa a constante

relação entre vida e morte.

Uma parte ama em silêncio

E se digladia em duelos de honra.

Outra parte reflete sobre a

fugacidade do amor e a

irracionalidade da violência.

Uma parte quer ser feliz, e se dispõe

Ao suicídio caso não alcance seu objetivo.

Outra parte nada quer ser, apenas é.

Uma parte é uma das incontáveis atrizes

Que se sucedem no palco da existência,

Cada uma com seu respectivo papel,

Indispensável para o sucesso do espetáculo.

A outra parte é sua paciente platéia.

Uma parte escreve este texto, se orgulha

Com elogios e se preocupa com as críticas.

Outra parte se contenta em

expressar o que sente.

Leonardo Barros
Enviado por Leonardo Barros em 09/02/2007
Código do texto: T374941