O violino

O violino estremece os acordes, finos, doces, os quais irradiam os tons se misturando a penumbra do quarto do artista, que só toca a melodia acesa no ar.

Eu escuto como um choro lançado pelos quatro ventos, espalhando todos os decibéis, entoados e minguando debaixo dos pés, como notas caídas e pisadas como fel, segue as historias tristes tocadas entre sombras e véus.

Por que não uma polca alegre? Pergunto-me olhando o teto, enegrecido de sombras neutras e ainda sem vida.

Acho que meu vizinho tem uma dor profunda e solene, quem sabe um triste solo, que caiu pelas bordas dos cantos do iludido amor, só não se sabe se Cupido ou Afrodite quem lhe deu as graças da melancólica dor.

E ainda é noite, noite de inverno, triste sereno, arrogante e gigante a acompanhar a madrugada, aquecida pelas vielas saltitantes, mas agora adormecida com a triste melodia.

Todos parecem olha-lo e admira-lo, na expectativa do último confronto de sons. Por que não toca agora o violoncelista e o pianista o choro de Orfeu?

Triste inverno que forma labirintos secretos em meio ao silencioso planto, da menina Perséfone, presa nas profundezas do submundo ao lado de Ades.

Quem dera meu triste amigo ser um grandioso guerreiro, e suportar a dor da vergonha de Aries em ser traído por todo o Olimpo?

Entretanto, não só eu desejo, mas a vila toda, que Apolo deus sol se atrase, para que se faça uma perpetua ação mutua e muda de pensamentos, lançados como as tortas e tristes notas de Ícaro, meu amigo que voa e voa, fascinado com o azul roxeado e negro do céu noturno.

Mas nada como admirar a beleza da caçadora que de tão sublime enlouqueceu Órion que logo foi castigado por seu desejo de possui-la.

Entretanto o meu coração é de Athena, pensador e frio, mas não me impede de admirar, tal primazia, orquestrada e veemente encantada e murmurada em forma de som por alguém que ninguém menos que um Hefáistos, de mãos suaves que cria a mais perfeita sintonia entre obra e arte.

E até Artêmis admitiu com um suspiro saudoso, e isso foi breve, mas foi à admiração contida e encontrada entre acordes delicados e rápidos de seus passos ligeiros, lutando contra monstros nos sonhos alheios.

Zeus calado é raro, e com cuidado sem fazer barulho e sentado em seu trono vê Era vingativa e linda fita-lo totalmente distraída.

E dos encantos e desencantos os deuses abençoam o violinista separando as cordas do arco, deixando um vácuo no tempo disseminado pela insensibilidade humana, que volta a seguir seu percurso natural, junto aos grilos urbanos tão desafinados...

Juliana k
Enviado por Juliana k em 28/06/2012
Código do texto: T3749312
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