Você não entende nada
"...Você tem que saber que eu quero correr mundo
Correr perigo
Eu quero é ir-me embora
Eu quero dar o fora
E quero que você venha comigo"
(Caetano Veloso)
Cansa-me um pouco o cimento. Quero o incerto, o insólito. E desde que fiquei louca perdoei meu silêncio e me dei o direito de enlouquecer sozinha em meio à lucidez de qualquer um. Ressalvas? Não faço nenhuma. Calo o silêncio num golpe certeiro. Emudeço e me torno a sombra de quem eu era sem nunca ter sido e isso não quer dizer nada. Nem eu quero dizer nada. Agora quero o silêncio dos veios da parede. Quero que parem as águas escorridas pelos canos. Quero que silencie o pássaro canor das manhãs. Quero que a madrugada, das três até as quatro, fique eterna até lá pelas seis da tarde. Quero ter o direito de ver as primeiras falenas chegando e quero que me encontrem na vibração das flautas. A estranha cumplicidade que tenho comigo mesma não está para o jugo alheio. Está em magia e está em mim. E, enquanto teço colchas com musgos e absorvo toda a perspicácia das corujas, quero o silêncio. Não me permito nem ouvir o apito dos trens imaginários, portanto: cale-se!
Há uma sabedoria inalcançável ao deitar-se na terra e ouvir o coração da natureza batendo lento. Há toda uma solidão, medo, vazio e gritos de esperança que só no silêncio podem ser ouvidos. É como quebrar o copo cheio de limites. Como despedaçar todo o equilíbrio em microscópicas partes, todo o desperdício dos desejos inúteis, todas as previsões de resultados, toda a angústia da individualidade.
É um desvencilhar-se da calçada. Do preso, do caótico, do desordenado. É a insensatez da racionalidade. Liberdade.
É egoísmo querer enlouquecer sozinha? Acompanhe-me, então. Em silêncio.