NA MESMA RUA
Durante muitos e muitos anos, moramos na mesma rua do mesmo condomínio. Somos amigos de infância. Guardamos no baú de nossas memórias, importantes recortes de nosso passado. Juntos construímos sonhos, alguns, hoje são realidades. Outros, o vento levou.
Você cresceu ou melhor nós crescemos. Juntos cursamos na mesma faculdade. Depois o destino nos separou. Você partiu para bem longe. Eu permaneci no mesmo lugar, apenas mudei para outra rua. Confesso, que, após sua partida, durante muito tempo, quase morri de saudades. Parecia que a vida havia extraído um pedaço de mim, tal era a nossa afinidade e cumplicidade.
Sei, amigo, que muito tempo já passou. Fico feliz em saber que você está bem e que agora está de volta à terra natal. Eu também estou feliz. Apenas lamento que a distância e a vida numa grande metrópole tenham contribuído para a sua indiferença, para o seu silêncio com relação a nossa amizade. Isso foi o que mais me magoou. Sofri tanto que nem gosto de lembrar, porque as lágrimas ainda me banham o rosto.
Sabe, amigo mais querido, não terei coragem de passar pela rua onde sei que estais, na casa de seus familiares. E como eu adoraria te abraçar com força, te dar um beijo, afagar teus cabelos, sentir que é você de verdade... Apesar de tudo, eu te perdooei e de ti não guardo nenhuma mágoa em meu coração. Mas... meu amor não pode ser humilhado outra vez.
Felizmente meu endereço é outro, ainda sendo o condomínio o mesmo. Não pretendo mais deixar impressa nenhuma marca, nenhum sinal meu nos caminhos de sua vida. Entretanto, o que está impresso ninguém conseguirá apagar. Nem você querendo. Também não sou do tipo que "destrói" lembranças que ficaram de um tempo que foi lindo, maravilhoso e que teve uma contribuição bem importante no nosso crescimento e amadurecimento.
Pelo menos eu não preciso aparecer diante de ti, seria... talvez uma humilhação para mim. Quem sabe... ao me ver, você finja que nem me conhece!
Isis Dumont