Cativo
Lábios de desejo, alma entristecida,
Pedi-te amor, negara-me vida!
Seios meus anseios, vida, triste sorte,
Saciar-te quisera...
Ainda que teu preço fosse a morte!
Rosada face posso ver, em meus sonhos és um lírio!
Sonho tanto pode crer?! És pesadelo ou delírio?
Num cismar estonteante nada somos, que aflição!
Imponha-me o preço do pecado,
Se o aceitares de bom grado,
Tão somente por perdão!
Por ousar findar um sentimento,
Nesta atitude o desperta, antes, não morre...
Ramifica-lhe rapidamente o pensamento;
E sua sede infindável, sentes, piora!
E hoje pensas ser crepúsculo, findar do dia?
Engana-te é aurora... E agonia!
Liberto, és ó sentimento!
Já que vã seria a tentativa de o prender!
Noites tristes, de tormento, tenho tido... E podes ter.
E sem se importar com hora, lugar ou momento,
Fizeste-me cativo... Do sofrer!