UM GRITO

Não!

Já disse não!

Não me venham com as culpas

do mundo

Não me cantem canções chorosas

Quero a realidade,

mesmo que dura e cortante,

é a realidade que quero

Não sou a esfinge no deserto,

decerto, também não serei

o mastro a segurar bandeiras

Quero somente a realidade,

já disse, só a realidade

me interessa, mesno dura

feito aço, é a ela que me curvo

Ah! de novo os dogmas!

Oras bolas,

não ligo para os dogmas

nem, tampouco, para verdades

As verdades?

Onde nos levará senão

a outros dogmas?

Quero neste mundo caminhar

o caminho dos homens felizes;

dos homens felizes

com as coisas simples

Quero a emoção diária,

quero sorrir com a piada pronta,

quero me emocionar

ao ouvir do velho suas histórias,

e escrever histórias sem sentido

Não, repito, não!

Não me venham com suas morais;

estou farto delas e de outras que se renovam

Ah!, e as instituções?

Nada mais que horrendas

e paquidérmicas casas da hipocrisia

São o falso templo da moral,

mas, às escuras,

promovem a fome, a miséria,

o deliquente e a prostituta

Quero a realidade,

a realidade dura e crua

para que eu possa ver no amanhã

outras possibilidades

Quero ver a flor e eu vislumbre o jardim

Quero o colibri e eu veja a revoada

Quero ver a criança e eu veja a humanidade

Só me interessa

a vida em toda sua plenitude,

mesmo que dura não me importa,

prefiro a dureza da vida

que caminhar sobre falsas promessas

Não existe o paraíso;

o paraíso é a falsa promessa

que nunca se realiza

Deus está morto, já disseram

O Homem, apenas o homem

constrói sua estrada;

somente ele

pode se superar

e preparar novos caminhos

Nada mais além

senão o Homem

O Homem, a causa e o efeito;

o problema e a solução

Deus está morto, já disseram

Não!

Não quebrem o espelho;

quebrem os santos e os demônios;

eles não existem; deus não existe

É preciso reviver o sonho,

o sonho humano e possível

de ver outros homens num todo

E que o resto vai às favas

Nada mais além

senão o Homem,

esse é meu grito