Aos Olhos de Junho...
Aos olhos de junho desfilam almas. Almas desfiando em cantinelas os dias de um ontem outono, hoje inverno.
Olhos carregando nos ombros um resto de calor das temperamentais horas de um ciclo já morto. Ciclo já findo nas folhas secas e sem vida, tapete e lápide dos pés caminhantes sempre de braços dados com o tempo.
Esse tempo que não permite em vida, uma morada, uma casa no passado. Ilusão das almas o tempo reter. Retêm-se as lembranças, o afago e o arrepio na pele, a dor na carne, nunca o tempo. O tempo dos olhos abertos, olhos que a tudo toca, tudo demove e tudo devolve. Morde, vômita e ele mesmo... Limpa.
Aos olhos de junho desfilam, ano a ano, outono e inverno. Outono partiu, partiu corações, partiu comunhões, partiu estações. Outono uniu, uniu letras, uniu o homem ao seu tempo, uniu a carne à alma, as linhas e as palmas. Na consciência absurda da vida perecível, ser... Enterrou e pariu.
Junho dos namorados, das almas ansiosas, das letras nostálgicas, das árvores ociosas, sonolentas e descascadas... Das flores que dormem, dos pássaros em que suas proprias penas se abraçam...
Aos olhos de junho, um pretérito e um futuro, aos olhos de junho, sentimento e introspecção... Hibernar é preciso, o inverno é preciso.... Não tarda e não falha. Ainda que junho, o bom junho, suas lágrimas derramem nas faces dos dias que limitam os ciclos...