Caminhei passo a passo
Nas estações da vida.
Ela já foi toda primavera,
Quando olhava para os
Lados e via o colorido
Das flores em aquarela.
A passarada trianando
Seus cantos, e eu menina,
Na melodia me encantando.
Fantasiando ora fada entre as flores,
Ora princesa sob esplendores.
E no dia-a-dia, acordada ou dormindo
Sempre estava sonhando.
Meu outono foi suave,
Sentindo brisa no rosto, cheiro de rio,
Chutando folhas secas avermelhadas
Espalhadas no chão.
Nos lábios o assobio
Uma cesta, um chapéu
E um anzol na mão,
Pescando pés de ventos
Que afoitos e traquinas
Fugiam pras ravinas.
Sem esquecer as mangueiras
Com seus frutos doces
Exalando o perfume no ar.
E os corações rabiscados
Nos troncos dos jacarandás.
Meu inverno foi quente
Bebendo gotas de chuva
Chapinhando poças d’águas
As mãos dentro de luvas.
Entre quedas e escorregões
Me estatelei em lama
E nas meras contradições
Edifiquei minha cama.
Dormi um sono com sonhos
Lento, longo e profundo
Me deparando ao acordar
Leve, e solta no mundo.
Meu verão foi intenso
Com ribombo de trovões
Relâmpagos incandescentes
Puras devastações.
O brilho relampejante
Nos flash dos momentos
Surgia a todo instante
Iluminando os pensamentos.
E sob a chuva de verão
Me deixei molhar
Lavando o coração,
A alma, o olhar.
Na pele que renascia
Uma cicatriz ficou
E entre acrobacias
A nova mulher aflorou.