Delírio tardio

Ela andava distraída, descia e subia as calçadas

quem lhe via não podia supor que ela era triste

seus passos eram passos de liberdade, não de medo

seu andar descontraído escondia algum segredo.

Era moça, quase criança, alguém que esquecera da vida

que não nutria nenhuma esperança. Era jovem, era bela

mas seu andar revelava sua história, tão incomum, e singela.

Estava eu a observa o seu caminhar infantil

era quase noite, era tarde fria, ela continuava a andar

Eu a seguia, de olhar atento. Seus cabelos negros

vez por outra conversava com o vento

eu não podia escutar aquele sublime diálogo

até que o sol se pôs, e eu a perdi definitivamente.

Acho que ela se perdeu nas nuvens

ou fora rebatada ao olimpo, já que ao céu não poderia

era um anjo, ou uma deusa daquelas de mármore

uma mistura de demônio com mulher,

talvez fosse mesmo uma prostituta brasileira.