Matemático também pode ser Poeta?

Advinhem vocês

ao garantir que geometria é poesia

e fazer uma brincadeira

com algumas figuras geométricas planas,

que pretensa ou maliciosamente,

de poema eu chamei.

A enrascada em que caí.

Os matemáticos sairam de mansinho,

por debaixo dos panos,

para fugir do meu desafio.

Não toparam a parada.

Seria por medo de um fiasco?

Onde já se viu matemático virar poeta?

Argumentaram.

Agora, a mídia, renomada

e até a de menor prestígio

de imprensa marrom, chamada

que se nutre de fofoca

camuflada em qualquer toca

Anda, incansável, atrás de mim.

Querem o telefone da assessoria de imprensa,

-Como se assessor eu tivesse!

Pra descobrir por onde ando

Esqueceram-se de que poeta não tem paragem,

o tempo desvanece... Vive da palavra,da rima,da inspiração,do verso,

da noite que passa ,da madrugada que se prenuncia.

Do sol que nasce e adormece,da imensidão cósmica

E disso que se alimenta, vive, distrai, constroi,

mantém aceso o fogo do qual retira a energia que

a sua alma aquece.Entorpece.

Alimenta seu ego, extravasa suas emoções.

Descarrega suas mágoas, seus desalentos.

Ameniza sua ânsia, seu espírito acalma.

O matemáticos não sabem lidar

com esse tipo de assédio.

Acreditam que todos

estão interessados na teoria de Einstein

Assunto para os intelectuais, os físicos,

os químicos, seus manuais complicados

"Dois corpos não podem, a um só tempo,

ocupar o mesmo espaço."

"O tempo e os espaço são relativos

e profundamente entrelaçados."

" E = MC²" ( Energia é igual a massa

multiplicada pela velocidade da luz ao quadrado).

Uma migalha de matéria a gerar

um quantidade absurda de energia.

Como Cristo, no milagre da multiplicação

dos pães, alimentando a multidão.

Não desgrudam da régua nem do compasso

Teorias resumidas em simples fórmulas

Como o fermento que o padeiro à massa acrescenta

para saciar o apetite da freguesia faminta.

A e álgebra? {x=IR/ x > 0) ... C oisa de doido.

Mas bastou uma fresta, partícula de luz traiçoeira

e o paparazzo clicou, faceira

a mulher de um galã famoso

ocupando um minúsculo espaço

numa casa noturna, luz negra, sedudora

nos braços de outro. Que amasso!

Apanhados no contrapasso!

Esses paparazzos!!!!!!!.....

Nunca estão satisfeitos.

Freneticamente, querem sempre mais um” flaga”

para completar, nos folhetins, suas metas.

A todo momento perguntam

por onde anda um tal “ triângulo”,

inveterado galanteador.

E a sua deliciosa maçã do amor.

Amigo -ou inimigo - do cupido

Sempre viajando, de carona,

como o Pequeno Príncipe,

Grudado na cauda de qualquer cometa.

A cada instante, a vislumbrar novo planeta.

O triângulo, cansado de ser perturbado,

perseguido por todos lados, acuado.

Para se safar do assédio

e não correr o risco de ser apanhado

e acirrar os ânimos de maridos desconfiados.

Decidiu disfarçar-se. Transformação radical.

Numa reunião secreta,

Juntaram-se quatro deles, mais um quadrado.

E depois de muita discussão

e tentativas tantas,opiniões, sugestões

Como um quebra- cabeças,

combinação perfeita encontraram,

tendo como cúmplice o quadrado.

O que aprontaram estes indiscretos?

Quatro: cada um com três lados?

O quadrado na horizontal estatelou-se

Que cômoda posição!

Os triângulos, paulatinamente

uns aos outros se juntaram,

lado a lado, num apertado abraço.

E para cima do folgado

pularam e se ajeitaram.

E assim disfarçados

-Coisa de mágico ou de matemático?

Em sólido se transformaram.

Ocupando, agora, três dimensões.

Mais confiantes, mais sofisticados

nada de hipotenusa,catetos, lados

Suas pontas viraram vértices.

Nada de quina ou esquina

nova formatação,solidez,traçado.

Eis que surge a PIRÂMIDE.

Desfilando garbososo, base e faces.

livres de flash.Disfarce perfeito.

Só comentários,elogios, comparações

Frenesi, cochicos, agito!

Objeto estranho, galã novo no pedaço.

Lembram-nos aquelas construções milenares

As famosas pirâmides do Egito...

Opinaram, logo, pesquisadores e arqueólogos.

Monumentos que sobrepujaram-se às intempéries da natureza,

às guerras, à ganância dos homens, seus projetos.

E, em seu ventre, guardam até hoje,

seus segredos. Que se danem os arquitetos!

Último refúgio dos faraós...e de suas riquezas.

Que mau gosto!

Lá dentro umidade, penumbra.

Labirintos que levam a lugar nenhum.

Cheirando a séculos.

Travestidos de pirâmides

Agora, à vontade, podem circular,

Não importa a ocasião ou o lugar.

Ninguém mais os irá perturbar.

Mas, para o poeta, o Egito

remonta a Rio Nilo, Cleópatra, sua rainha.

Seus amores. Seu fascínio

Lascívia em leito de cetim

a aconhegar ardentes amantes

mistura explosiva de sedução, paixão e poder,

Que em tragédia terminaria, enfim.

Julio César, Marco Antônio

Ao seu charme não resistiram.

E para entrar na história

Morte trágica, premeditada.

Escolha impar. Heróica?

Ou irônica?

No seus seios aconhegada

Uma serpente predestinada

Sua missão cumpriu, fielmente:

Injetando em suas entranhas

Seu veneno fatal, que

Percorrendo artérias e veias

Seu coração fez parar , finalmente.

Drama que a telinha eternizou

nos olhos cintilantes de um casal

de atores que da ficção para a realidade,

também se imortalizou.

Poeta e seus devaneios...

A esta altura do campeonato

os círculos, uma assembléia, convocaram

Precisavam se mobilizar

para os triângulos enfrentar.

E assim, dezenas deles, de juntaram

todos com o mesmo diâmetro

e coladinhos, uma pilha formaram.

Novo personagem na praça.

Surge o CILINDRO. Sólido arredondado

Mas fácil caminhar, manipular, rolar..

E logo, cilindros de todos os tamanhos

comecaram a desfilar.

Sem pontas, sem faces, sem arestas.

Quanta combinação poderiam realizar!

De todos os tamanhos e cores

Mais raso ou mais fundo..

mais estreito mais largo, ou até com o diâmetro do mundo.

Podem tirar sua tampa e o seu fundo.

No seu interior, espaço a vontade

É só saber aproveitar!

Mas não esperavam tanta curiosidade despertar.

Engenheiros, empresários, arquitetos.

viram logo que aqueles canudos

seriam de grande utilidade

para sua engenhocas montar.

Alguns tiraram a sorte grande

escolhidos, foram nas lanchonetes parar.

Entupindo-se de sucos e refrigerantes.

Dia inteiro a se fartar;

Outros passaram a conduzir

no seu ventre liso e escorregadio

milhares de litros de cerveja ou de vinho

Mais tarde, o AAA, com certeza, terão que frequentar!

Alguns, triste sina tiveram

enterrados em valas profundas

toneladas de terra por cima

de dejetos os homens o entupiram.

Resignados, à lei de Lavoisier se renderam.

"Na natureza, nada se cria, nada se perde

tudo se transforma".

Nos rios ou em depósitos seu conteúdo vomitam

Initerruptamente, o ano inteiro.

Sem se importar, com o desastre

Que certamente provocarão, no

Nosso já combalido meio ambiente.

Chiiii.... que mau cheiro!.

Entusiasmados com o sucesso dos colegas

um grupo mais discreto, em absoluto segredo,

outra combinação descobriam

Círculo de maior diâmetro em baixo

e, gradativamente, os de diâmetros menores

a ele se sobrepuseram.Coladinhos.

E assim o cilindro foi-se afunilando, se fundindo.

Entrada ou base. Nada de saida.

Por precaução, lá em cima, fechadinho.

Nasce o CONE. Pra que sobrenome?

Mas logo os humanos do novo sólido se apossaram.

Eu mesma o vi várias vezes, na cabeça do palhaço

Aquele com um tufo de cabelo colorido

de cada lado. De lã ou palha de aço?

No arena do circo se divertem. Cada dia um show.

Desfrutando das deliciosas gargalhadas

da criançada desdentada,que ri com a alma,

e até do velho alquebrado, esquecido das dores

e dos dentes, que em casa deixou,

por raros e preciosos instantes.

E do circo, direto para o asfalto, lá vai o CONE..

Pintado de laranja e branco

ao lado do guarda de trânsito,

com seu apito entre os dentes.

Um silvo longo e um breve...

Que som irritante, por vezes estridente.

Empinado, se julgando importante

Impedindo o trânsito.

Lá vive ele, imponente.

Flagrando o adolescente imprudente, insolente,

Irreverente, explosão de juventude, hormônios,

Ânsia de abarcar o mundo, viver tudo a um só tempo

que na balada se embebedou,

de cerveja e outras bebidas se fartou.

E insiste em pegar no volante

Perigo de acidente, que tira a vida

de tanta gente inocente.

A última notícia que corre no pedaço

é o aparecimento de um sólido

de nome muito estranho, abusado - ou ousado

combinação de retângulos e quadrados:

o PARALELEPÍPEDO. Nome comprido.

Para se diferenciar e a atenção chamar.

Travar a língua dos desavisados.

Meu dedão do pé se encolhe

E um friozinho me percorre a espinha

só de lembrar do encontro que com ele tive,

na esquina.Onde, sem anestesia, deixei uma unha.

Perdi a voz. Não consegui uma palavra sequer pronunciar.

Dor lascinante... Emudecedora...

Também com esse nome! Precisava de um cognome.

Vocês perceberam que os quadrados

Até agora só papel de coadjuvantes conquistaram.

Por isto, quiseram um nova figura, sozinhos, formar.

Seis quadrados. Em baixo, em cima, sentado,

De pé, deitado, de lado.Só de quatro letras precisaram

E de "CUBO" se nominaram. Seis faces.

Grande progresso. Antes só tinham quatro lados!

E como praga se espalharam.

E para diferenciar cada face

Nele os homens imprimiram

números ou bolinhas.

Sem encostar em nenhuma linha.

Para rolar, como são desajeitados!

Sempre precisam apoiar

numa de suas faces.

Até que tentam numa de suas quinas se equilibrar.

Mas de pé não dá para ficar.

Ficou viciado. Adora jogos de azar.

Frequentador assíduo dos cassinos.

Na mesa verde aveludada a rolar

Decide qual face vai pra cima ficar.

Delienando a sorte do jogador esperançoso

de uma grana faturar.

Pobre coitado! Como é azarado.

Apostou no seis. E o danado do cubo

justamente nesta face se refastelou.

Como é debochado!

E o tal de CUBO MÁGICO?

Que doido inventou aquilo, meu Deus!

E não é que até um, eu ganhei.

Virei, revirei, voltei, troquei, calculei,

Torci, retorci, tentei

ponderei, raciocinei. Desesperei.

Vários neurônios queimei.

Azul para lá.Verde pra cá. Sobrou o branco.

para ele não achei lugar.

Estava quase a desistir ... quando...

Eureka! descobri a solução.

Sorrateira e pacientemente o desmontei..

Algum tempo depois o reapresentei .Montadinho.

Segredo de poeta .Pro matemático não revelarei.

E as ESFERAS? Aqueles sólidos limitados por uma curva.

Não tem base, nem vértice,nem aresta.

Democráticos. Na natureza e no universo reinam absolutos.

Deslizam, ligeiros, nos pés da molecada. Meia velha costurada.

Coloridos, suportam as travas das chuteiras de grife

de jogadores milionários. Campo de impecável grama aparada.

Já perceberam que tres bolinhas de sabão

se a um tempo do canudo sairem

no espaço um triângulo formarão?

Basta poeta!!! Grita o matemático.

Geometria é coisa séria.

Fique com suas rimas, seus traçados,

não interfira na nossa área.

Como pode ser tão atrevido e ousado?

Em outro poema,os números até o insultaram

dizendo que você valia menos que o zero!

E o pior ainda estava por vir.

Por precaução,tampões de ouvido comprei,

Imaginando a histeria dos reis das "exatas"

Quando seus livros abrissem

e nenhuma figura, encontrassem.

Desesperados detetives contratariam

E até o FBI convocariam.

O que estaria aprontando este poeta louco

ou este louco poeta e aqueles danados?

Jamais poderiam imaginar que no meio da avenida

Na terça- feira de carnaval.

Bem no meio do desfile, sem nenhum aval,

na categoria de blocos caricatos,

lá estavam, trôpegos, a desfilar,

sem o menor pudor, irreverentes, desconexos.

Com alegorias, porta bandeira e até estandarte

cones, pirâmides, esferas, cubos, paralelepípedos

poliedros e não poliedros. Que imaginação e arte!

Nome do bloco “SÓBRIOS GEOMÉTRICOS”

E para completar a euforia carnavalesca

A música, tema, do inusitado bloco

" AFINADAMENTE" entoada,

De bêbados soluços acompanhada:

"Chegou a turma do funil.

todo mundo bebe...

mas ninguém dorme no ponto....."

Foram os primeiros colocados, é claro.

na passarela, sucesso total.

Pela galera, de pé, ovacionados!!!

Logo o vídeo desses desnaturados

na rede You tube foi parar.

Sucesso estrondoso. Rede congestionda.

Recorde de acessos, para no Guiness figurar.

Relaxem, matemáticos!

Amanhã é quarta-feira.

Após curaram-se da ressaca

E de toda a bebedeira, ainda meio sorumbáticos,

Fazendo cara de preocupados, cada um seu lugar reassumirá

Depois desta façanha, a matemática

Nunca mais será a mesma.

Ficou mais descontraída, mais simpática

Palavra de poeta!

E como tenho boa índole e intenção

Vou dar-lhes um conselho:

No próximo ano, no mês de fevereiro,

tranquem seus armários,

Por pura precaução.

E adivinhem vocês

Quem vai sair agora de fininho,

por debaixo dos panos...

Ou, melhor, das arquibancadas...

Antes que me alçancem...

E façam de mim um picadinho..

Com eles não posso topar

Preciso desta fúria escapar.

Ah! já sei ! É lógico!

Como não havia pensado nisso?

Matemático pensa... Poeta inventa.

Jamais irão desconfiar.

Meus leitores, não se preocupem.

Matemático não é versátil.

não tem jogo de cintura, nem ginga.

Agora não sou mais poeta, trovador,

romancista, cronista ou pensador.

Achei o disfarce perfeito.

Transmudei-me em matemático.

"Olha eu aí , gente” ,bem no meio do sambódromo,

encerrando o desfile, alegoria improvisada:

Na mão,régua esquadro e compasso.

e para completar o traje, o pipoqueiro

emprestou-me seu jaleco suado.

Saquinho de pipoca quentinha

o último que ele tinha,

salgada, como mar morto.

Ufa! Cheguei são e salvo à Praça da Apoteose

Atravessando o ritimo, feito um palhaço!!!

Que poeta desafinado....

Até algum dia, senhores matemáticos!!!

Maggá.