“Porque onde me falta senso, eu penso que não me falta nada.”
Eu nunca escrevo sem querer
Mas quero muito mais o que não escrevo,
O que eu escreveria, se não doesse, se não sangrasse
Se não me acabasse com toda a vontade de dizer,
Se não morresse no silêncio profundo do peito,
Se não desaparecesse muito antes de nascer
E se fosse muito antes de não ser...
Poesia, letra fria que outrora ardia
N’algum inferno desses de temer.
E cada palavra vinda eu mataria,
Se não fosse tão necessário ainda dizer,
Que nem é tanto assim e não vou saber por quê.
Porque me distraio e me esqueço do próprio medo
E quando percebo a dor imensa que foi
Eu nem senti, mas sei que escrevi.
E tendo escrito fica o dito pelo não dito
O maldito senso da culpa de nunca calar...
Eu nunca vivo sem querer
Mesmo quando quero tudo cada vez menos.
Sei que o que não vivo tenho de escrever,
O que não sonho eu ponho em palavras
Estas, as minhas, cansadas, violentadas,
Tristes e malditas palavras tortas, mortas,
Arrancadas de um vazio tão daqui de dentro
Que eu me componho só do que não sei dizer,
Palavras que não tem nenhum senso,
Só este pretenso ar de talvez ser
Tudo aquilo que nem sei mais dizer
Mas que tenho de sentir e escrever...