Primeiro foi o dia inteiro sorrateiro
Passando rasteiro pelo fundo da agulha.
E num derradeiro arroubo de divindade
Eu costurava um tempo que não tinha
E rasgava uma eternidade que ainda vinha.

Uma tarde melancólica caiu do alto das nuvens
E ecoou com o estrondo de milhares de trovões,
Espatifou-se num horizonte a perder de vista
E abriu o céu para a vil conquista da escuridão.

Num mergulho desapareci num rastro de luz
E engoli as trevas que distraído eu mesmo criei
E destruí qualquer esperança de nascer outra vez
Ou talvez tenha morrido de um futuro que nem sonhei.

E adentrei as perigosas e inevitáveis madrugadas,
Essas horas mortas e solitárias tão desgraçadas.
E para andar tanto em falso era um não haver calçadas
Que eu inventava em vão todas as ruas por que me perdia.

E um tanto assim quase poeta e amaldiçoado
A bailar nos infernos que descobri a esmo...
Desde que morri eu mesmo nunca mais nasci
Em todos os tempos em que pude viver
Eu apenas me lembro que esqueci...
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 13/06/2012
Reeditado em 07/05/2021
Código do texto: T3722388
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