O DIA DOS NAMORADOS

O amar tem um tanto de sofrimento e posse. Expira e tosse o que vem de dentro, do corpóreo que mede o humano ser. O amor carrega tristezas que nem o coração revela, tal é o (sempre) medo de parar o tique-taque. O amar, no entanto, é o que humaniza e faz ver o quanto tenho de seguir dentro do casulo pra chegar até onde a lareira espera, avara de fogo e calor. O amor bate forte todos os dias, me arranha a cara e a pele só pra se dizer presente, vivo. O amar é possessão permanente, mesmo que não confesse seus mínimos desejos. Tenho de surpreendê-lo, diz-me! E ofereço o rosto condoído a fim de tentar apreender quanto é difícil manter acesa a votiva chama do coração apaixonado. O amar é todo feito de poesia e nem sempre eu a percebo como linguagem, assim a procuro entre o choro e o riso. Porque é difícil ouvir a voz do dia a dia, quando a porta se abre e fecha (na mesma casa) e a cama sofre a ação do tempo das inquietações e fugas. O amor só sabe a mim quando há a entrega de beijos, abraços e ele se afoga apertado no peito num hausto vital. Porém, o que ele não percebe é que só estou vivo porque ele sopra os pulmões em sua convivência e se faz urdidura íntima, a esperança de que o novo dia, no próximo ano, cumpra a sua sina de envelhecimento – tal o vinho de boa safra. É isso o que o ser relata e espera nessa convenção datada de 12 de junho. Que, por ser assim, se autorrelata como diferente, a cada vez que o estar vivo ou o estar na outra margem multiplica lembranças. Todavia, ainda creio nos ditos, pregões e rezas, para que se possa imaginar possível o mandamento bíblico dos costumes: amai-vos. E que se respeite o coração como fiador das várias flamas – o lume da paixão...

– Do livro POESIA DE ALCOVA, 2012/16.

http://www.recantodasletras.com.br/prosapoetica/3720641