SAUDADE DA INFÂNCIA
Sei que esta frase pode parecer repetitiva, mas sinto saudades do meu tempo. Tempo, palavra que sempre nos remete ao passado e nunca ao presente ou futuro. Será porque andamos muitos insatisfeitos com tantas coisas que acontecem no nosso tempo presente? Mas diga aí, dá ou não dá uma saudade do nosso tempo de molecagem?
No nosso tempo, sim, afirmo, no nosso tempo sim, a adrenalina acontecia de forma diferente, não tínhamos vídeo games para simular nossas emoções. Não precisávamos sair quebrando as coisas por aí, nem queimando índios e muito menos espancando quem não fazia parte do nosso meio. A gente fazia a adrenalina correr mais rápida nas veias, brincando. Eram tantas as brincadeiras
O espírito de brincar competindo era mais presente em nossas vidas. Não existia o bullying. Se alguém dava apelidos ou falava mal a gente dava o troco apelidando também sem criar confusões ou humilhações. Ninguém precisava ir a psicólogo, aliás, acho que essa profissão não era muito famosa, pelo menos aqui, no meu pedacinho de chão.
E as diversões, ah! Que maravilha! Corríamos descalços, livres, leves, soltos, sem medo de contrair as benditas bactérias e muito menos gripes de porcos, de frangos e sabe-se lá que bicho mais vão encontrar pra contagiar as pessoas.
Não ficávamos presos na frente de um computador, com as pernas esticadas e nos empanturrando com sanduíches e outras guloseimas. A gente ia subir nas arvores, mangueiras, jabuticabeiras, e ficavamos com a cara toda lambuzada, o sumo escorrendo pelos dedos sem nos importar se iriam manchar as roupas. E quando chegava a hora de entrar, nossas mães não pegavam o celular para chamar pra tomar banho ou fazer a refeição, simplesmente elas gritavam da porta ou janela: - CRIANÇAS, TÁ NA HORA DE ENTRAR – e se não obedecíamos de imediato, ela pegava um cipozinho e ia atrás da gente, e como castigo dava pequenas bordoadas nas pernas e saltitando num pé em outro corriamos pra casa pra fazer o que ela queria. A gente ficava obediente assim, e pra piorar o castigo ela dizia: - Vai ficar uma semana sem olhar na janela, só terá direito de ir pra escola!]Ninguém procurava Conselho Tutelar e muito menos a Vara da Infância pra fazer denuncia. A gente sabia que aquilo era para o nosso bem, a gente até chorava, mas depois riamos com os outros coleguinhas, lembrando da situação.
Quantas bordoadas nas pernas eu levei pelas minhas peraltices. Quantos puxões de orelhas pra que eu fizesse a coisa certa.
]Quantas coisas boas aprendemos com os castigos dados pelos nossos pais. Quantos valores de moral e civismo nos foram ofertados na escola, com as aulas de “Moral e Cívica” e que nos ensinaram a sermos cidadãos de bem. Pergunto-me por que esta disciplina foi abolida das escolas?
Não gosto muito de expressar a frase “no meu tempo”, mas... Ai, que saudade daqueles tempos!