®Lílian Maial 


Dedicado ao Anderson Fabiano
(depois da leitura de “Quatro Paredes”, por absoluta necessidade de soltar o que a palavra precisa dizer)


Sim, sim, a tristeza é o combustível do poeta, e a inquietação, a faísca que atiça. E o pobre bardo tentando tampar o buraco no peito, mas só conseguindo abrir fendas e feridas, sonhar com a normalidade que não conhece, o amor que pensa existir, a felicidade que não entende.

Há tantas coisas por saber e tantas outras por descartar. Mas como sabê-las descartáveis, antes de vivê-las todas?

Não sei se tenho espaço entre a cabeça e o peito, ou apenas uma Torre de Babel, onde a razão me ensina de um jeito, e a emoção me corrompe de outro, num cabo-de-guerra sem fim.

Sou bêbada das minhas vivências, equilibrista de fatos e resquícios de memória. Sou dependente química de algo que não tenho, ou que talvez sempre tenha tido e nunca soube identificar.

Alimento o anseio por respostas e, hoje em dia, também por novas perguntas, já que sou mutante e cíclica, poeta de faz-de-conta, perita em altos e baixos, cada vez mais nivelados ao chão, leito final de bípedes, quadrúpedes e incrédulos.

Sinto que algo me passou despercebido, algo deixou de me visitar os dias e, quando dei por mim, tinha passado a estação, ou será que eu é que havia errado de trem?

Não, ainda há de acontecer um evento qualquer que me arrebata e me esclareça tudo, ocupe todos os espaços, preencha todos os silêncios, e me aponte a verdadeira razão de eu ser poeta, ou ser mulher, ou ser este ser que não se encaixa nas fotos, nas conversas de bar, nos cantos da vida ou em qualquer coisa que não seja ímpar.

*********