LEÃO

Vi no horizonte tênue luz.

Ao longo do caminho paira a escuridão.

Sôfrego, entristecido, caminha um leão.

Olha o deserto.

Vazio ou cheio, não importa.

Bate a fome, enrobustece-se seu desespero.

Sonha solitária figura; sacode sua juba; régia imposição.

Embora fera, se desespera...

Antes água farta, hoje areia e pó.

Sente-se só...

O sol, hoje companheiro insólito, rega miragens, devaneios...

Cai, rola em frenesi... Inebria-se...

Desenha em nuvens arenosas majestosa visão...

Felino, ontem tão forte... Hoje tão frágil criatura.

Sabe que a natureza, implacável mãe, fez-te grande, faminto, inteligente.

Parece que em teus olhos correm rios de lava, impunha-te pelo seu fulgor.

Por isso, não se rende à dor.

Chora, cai, bravamente resiste.

Insiste...

Sonhava com dias gloriosos...

Hoje, pesa-te a juba...

Reina, cambaleante, nas areias que cintilam...

Orgulhosamente... tomba com sua coroa...

Sobe ao céu um rei...

Desce à terra um anjo...

Chora, em nuvens ao longe, sábia natureza.

Chega tarde o milagre de quem a todos fez.

Com ele renascem as pequenas criaturas...

A vida que se renova, canta a quem piedosamente, age e embeleza as areias que em flor relutam pela eterna ânsia de ver-viver.

(Marcio J. de Lima em 30/05/2008).

marcio j de lima
Enviado por marcio j de lima em 11/06/2012
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