O QUE PASSA DE PAI PARA FILHO

Ao rabiscar as paredes ainda na casa de seus pais,

O homem já dá sinais do que sabe e é capaz...

Vai contar a própria vida,

Mesmo que ainda não toda vivida,

Tornar-se-á sábio,

Diferente dos outros animais...

Vai do humilde ao homem culto,

Do alegre ao infeliz...

Não importa qual seu nome,

Se vai ser santo ou meretriz...

O homem vai cumprir pela vida sua missão

Transgredindo idéias no pensamento,

Vai cumprir a sua função...

Fazer escritos ou deixar dito, são formas diferentes

De registros ou declaração deste homem em disparada correndo contra o tempo...

De manha ainda que tímido, faz rabiscos e garatujas

E a tarde quando cresce, arrisca deixar escrito suas aventuras...

Ao ler o que escreveu quando era inda menino

Esse homem vê seu destino escorregar feito sabão...

Ainda ontem de manha, seguro pela mão

O menino pedia ao pai para ensinar-lhe a lição...

E agora então mais tarde, velho homem já caquético

Com o livro de baixo do braço vai reler a sua obra...

Com cuidados e polidez

Agora é a sua vez,

Do homem que era menino deixar por escrito seu destino...

Assim como Narciso, sua escrita lhe convêm

Sem direito a uma análise se contenta com o que tem...

Se então quando menino,

Ter fome era não ter comida,

Agora quando anoitece a miséria e a avidez é o desejo insaciável

De voltar tudo outra vez...

Mas o tempo é implacável,

Consome os segundos com altivez...

Quando ele mal percebe, já esta morto,

Perdeu a vez...

Como é triste esta realidade, depois tantas experiências

O homem sobrevive apenas com o que restou da essência...

De que vale tantos cargos ser famoso,

Proprietário,

Se nesta vida só deixou seu inventário...

Entre tantos filhos que gestou

E as historias que pariu,

Talvez apenas um vá trilhar o caminho que ele pisou...

E assim a transmissão deste pai afortunado,

A maior riqueza que deixou foi o escrito do passado...

E assim como magia, a vida perde força,

Vai ganhando notoriedade como beleza de moça...

Com o corpo já vencido, pelas trincheiras da vida,

O homem prepara a mortalha como fosse essa,

Seu ultimo prato de comida...

Já não importa tantos euros,

Nem as dores que sentiu,

Muito menos os aplausos que esta vida lhe consentiu...

Agora o homem nobre, que desta vida ficou pobre

Por perder de vez a sorte de não ser mas o homem viril...

E assim a humanidade, representada por cada sujeito,

Em busca de sua identidade só se da conta que o que buscava

Estava bem próximo deste leito...

E agora jaz em vida,

O homem nega a partida como um abalo violento

De alguém que deseja sua vida repetida...

Mas agora já é tarde,

Esta perto da fronteira entre a vida/morte,

E o sepulcro é sua trincheira...

Se soubesse nessa vida que a partida é essa ferida,

Teria sofrido menos, reescrito melhor a vida...

Então o escritor,

Na cadeira de balanço olha os netos ainda que tansos,

A brincarem como a própria vida...

Se pudesse explicar, a esses sujeitos crianças,

Que as brincadeiras não terminam enquanto homem trás consigo a esperança...

Entre tantas algazarras,

O homem se balança, relembrando em cada sorriso dos netos, a sua vida de infância...

E assim será transmitido entre tantas gerações

O que passa de pai pra filhos

O que é real o que é ilusão.