::: Passado :::

Esses dias estava remexendo algumas coisas antigas, nem tão antigas assim, e encontrei um cartãozinho, com letras tremidas. Confesso que me causou uma profunda tristeza, porque aquelas palavras já não fazem sentido ou talvez nunca tenham feito. Sabe? Só padrão? É assim que me sinto quando vejo essas coisas. E as fotos? Parecem montagens mentirosas do que nunca foi. E o que mais me machuca é essa droga de mágoa resistente, ainda que eu prefira essa distância a ter que compartilhar a visão de alguém de fazendo feliz como eu, imperfeitamente, não te fiz. Que fique assim, uma grande farsa da vida, que é cheia disso mesmo. Encenações, sorrisos para lá e para cá e no fundo, um grande abismo aberto no peito. É a vida, temos que ser fortes ou então morremos em nossos próprios medos e vazios. Mas eu cansei de verdade, de ficar tentando explicar o que aconteceu para mim mesma, cada vez que leio as poesias que um dia fiz para você. E quando leio as que você fez, não consigo encontrar um sentido, as letras parecem rodopiar pela tela do computador. Frio e intacto, que as entrega assim, vomitadas, sem nexo, sem consistência alguma. Talvez eu não esteja preparada para virar essa página e ainda fique remoendo esse passado ainda tão presente, mas eu sei que consigo. A próxima página está bem na minha frente, um outro sentimento, um outro alguém e no entanto, falta-me coragem para seguir adiante. Mas vou conseguir, preciso antes rasgar essa página. Me ajude? Por favor! Porque é você o dono dela e o único capaz de arrancá-la de mim.

Ana Luisa Ricardo
Enviado por Ana Luisa Ricardo em 09/06/2012
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