ANOITECER DESERTO.

A tarde se encaminhava lentamente para os braços da noite que sabia não haver constelações .

A chuva miúda e o vento gelado eram premonição de anoitecer deserto .

Podia tocar as gotas teimosas de chuva que deslizavam pelas vidraças inertes.

Sim podia apalpar as lembranças que se (re)faziam uma após a outra na tela da mente.

Em instantes viu a vida recobrar seu sentido e esvair -se de vez pelos ralos e tênues fios da realidade.

Um vento marinho chegava barulhento e agitava as folhas dobradas e esquecidas nos cadernos íntimos , linha por linha, página por página como a (re)esculpir letras.

As fotografias se revelavam e se desbotavam na mesma frenética pressa de uma mente embotada de úmida solidão.

Aos poucos a respiração junto as vidraças frias deixavam um véu de mistério no qual podia tocar e tecer e desfazer formas /rascunhos reais ou anti projetos fantasiosos.

Ouvia muito longe o badalar do sino da igreja da pequena cidade anunciando que mais uma hora chegara/partira.

O barulho das ondas quebrando na areia molhada , as folhas penduradas esperando sabe - se lá o que para cair.

Ficou ali fitando a vida / ida e imaginando como tudo seria se tudo houvesse sido.

Mas não foi.

As luzes iam se acendendo aos poucos e o dia adormecia suave , bem como as esperanças requentadas como um café com bolo em uma tarde chuvosa...

... prenúncio certeiro de um anoitecer deserto.

Márcia Barcelos.

08 de junho de 2012.

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Agradeço a interação do amigo poeta Jaymeofilho.

Inerte, vejo luzes, como cruzes,cintilando,tilitando,como sinos,entoando os seus hinos,com meninos uniformizados,embalados pelos cânticos ,encantadados com as rimas, melodiosas naquele final de tarde,quase noite, um açoite ,ao meu destino,desatino de amor,deserto anoitecer.

Márcia Barcelos
Enviado por Márcia Barcelos em 08/06/2012
Reeditado em 09/06/2012
Código do texto: T3712839