Sem palavras...

O ponto final nunca me faria bem... Ser reticências parece mais seguro, mais real! Sempre tive uma necessidade desesperada de parecer real! Provavelmente esse desespero vez de mim cada vez mais reticências... Dia a pós dia, mais reticência... Mais silêncio, menos palavra... Talvez a tentativa de ser ponto final colocaria um fim qualquer em alguma realidade... Na minha aparente realidade: silenciosa e embaraçada... Realidade que só eu conheço e percebo... Que só eu vejo como os fios vão sendo construídos e de súbitos desmanchados... Não há como ter certeza de que ser ponto final mudaria tudo? Se pelo menos eu pudesse ser por um instante ponto final e de imediato logo voltar a ser reticências! Esse ser por um instante não cabe em um ponto? Não seria esse peso incontrolável que me faz não querer sê-lo? Esse fim imediato de improváveis conclusões?... As reticências fazem de mim quem eu sou: infinidade de pontos inacabados e desordenados... Estar desordenado é inexplicavelmente estar em ordem, ligeiramente inteiro de novo... É, de novo! Já fui muitas vezes inteira, mas nenhum inteiro me caiu bem... A inteireza da vida nunca me olhou nos olhos? Seria esse o momento de maior encontro comigo mesma e que faria de mim um ponto final? Querer adiar esse encontro só me aproxima cada vez mais de um ponto inevitável... Por um instante agora pensei que tivesse encontrado o meu inteiro... Percebê-lo nunca me pareceu muito fácil... Tomá-lo consciência faz com que ele se perca em um vazio sem volta... Não quero essa consciência irrecuperável que faria de mim um ponto vago, um ponto seco, ilusoriamente terminado, um começo indesejável de uma outra realidade que ainda não estou pronta... Provavelmente nunca estarei pronta para começo nenhum... Começar é tão complicado quanto terminar... Estar no meio é mais confortável, mais quente... E quando as extremidades se aproximam, o quê faz de mim capaz de sempre escapar e voltar ao meio de um eterno nada? O meio então seria um não viver? Estar pronta para esse viver talvez fosse o início do meu ponto final... Mas já sei que não o quero, nunca o quis!

Gabriela Costa
Enviado por Gabriela Costa em 07/06/2012
Reeditado em 19/05/2013
Código do texto: T3711734
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