Me lembro com saudade!
 
De quando eu era criança,
não tinha mais que uns 5 anos,
passava as férias junto com meus irmãos,
na fazenda em que meu tio e padrinho de batismo,
era o administrador.
Lugar lindo a perder de vista,
pomar de várias frutas ali tinha,
levantavamos as 4h30 da manhã,
sentindo o cheiro do fogão a lenha,
pão e bolo assando,
bulé de café na trempe do fogão.
O cheiro era convidativo,
pegávamos nossas canecas de argate verde,
íamos para o curral, tomar leite tirado na hora,
a espuma ficava nos lábios,
e a gente se deliciava.
Depois saíamos pela fazenda a cavalo,
as vezes caminhando,
visitávamos os pomares, comendo de tudo um pouco,
estrada de terra batida, mas as vezes empoeirada,
ali transcorria nosso dia,
em meio brincadeiras,
nadar no riacho,
nem voltávamos para almoçar,
tamanha era a variedade de coisas que encontrávamos.
Meu padrinho já preocupado, arreiava o seu alazão,
partia atrás de nós,
quando a gente via a poeira ao longe,
sabíamos que era ele e que já tinhamos ultrapassado nossa hora,
mas nem era tão tarde assim, apenas 16h30,
porém na fazenda não tinha luz, a não ser a do lampião.
Chegávamos vermelhos de terra,
a água já pulava na panela,
todos para o banho: minha madrinha falava,
e felizes a gente ia, sem reclamar.
O cheiro da janta já aguçava a nossa fome,
banho tomado, jantávamos,
depois em volta do fogão,
lenha cripitando no fogo,
chimarrão na cuia,
e os causos eram contados,
botavam medo em nós,
e a gente com os olhinhos brilhando,
achando que tudo aquilo era verdade,
juntinhos uns aos outros,
segurando as mãos,
mas sem dúvida os sustos vinham.
Depois no colchão de palha,
fofo que nem ele só,
deitávamos com a lamparina acesa,
com um medo de dar dó.
Eram apenas 20h,
mas parecia que o véu negro da noite tudo cobria,
e nesse ritmo eufórico, vivíamos ali,
os melhores dias de nossas vidas.
Cheiro de lenha no fogão,
rostinhos vermelhos pelo calor,
me lembro com saudades...
 
Silvana Santos