Já não chove mais em mim...
A chuva que chove lá fora já não chove mais em mim.
A água cai e corre em euforia, desbanca em correntezas, enxurradas. Acontece um dilúvio.
Líquida e gélida. Agridoce. A chuva limpa as ruas, destrói canteiros. A água leva consigo todo o pó das janelas. Nada sobra. Nada fica.
E eu espero, espero enquanto observo o espetáculo. As margaridas, amarrotadas, jazem despedaçadas e espalhadas por todo o jardim. Um massacre. Uma chacina.
Enquanto aqui dentro, onde há o mais puro e sagrado segredo, só há vento. Uma brisa fresca e reconfortante. Não, inconsolável.
A espera aflita, acompanhada de uma certeza arrebatadora. Gritos se perdem em xícaras e caixas.
O branco gelo.
Só chove lá fora.