Metade

De um sádico modo chegava a ser hilário como crescemos imaginando que algum dia alguém vai aparecer assim do nada, e nos salvar do mundo. Chega a dar pena do quão ilusório é. A verdade é que chega uma hora ou outra que você tem de fugir das pessoas. E é o mundo que vai lá e te salva. São aqueles momentos em que você se sente sozinha, mas tudo que faz é afastá-los pra longe. É quando você assiste um filme de romance e chora sozinha, um de terror e se abraça pra parar de sentir medo. Ou pior... É quando você assiste um filme de comédia e fica ali, rindo sozinha. Talvez até de si mesmo. Ri quando os outros te olham como se fosse arrogante, ou tão independente que não precisasse de mais ninguém, não desejasse ninguém ali contigo. Chegam a te olharem com desprezo, como se você não soubesse se eles acham que não precisa de ninguém ou apenas ninguém é que precisa de você. E talvez nem você saiba a resposta. Porque toda essa vontade de andar por esse mundo sozinha, comer sozinha, ouvir música sozinha seja apenas um ato de se proteger. Não é que você não queira ninguém ali. Só não encontrou ninguém que estaria ali, que merecesse ou quisesse. Alguém que não te protegesse dos seus medos, e sim compartilhasse dos mesmos. Alguém que gritasse na mesma hora que você, alguém que chorasse na mesma hora. Alguém que quisesse comer a mesma coisa, ou ouvir a mesma coisa. Alguém que por alguns minutos, enquanto vocês andam lado a lado na calçada, se confunda com você. E que ria exatamente no mesmo momento que você. Alguém com quem você não sinta aquele desespero quando acaba o assunto. Alguém que simplesmente não deixe acabar o assunto... Sei lá, as vezes eu tenho vontade de olhar pro outro lado da praça, e encontrar outra pessoa que pareça tão incompleta quanto eu naquele banco acinzentado. Alguém que não diga nada, e só por um sorriso complete o meu sorriso. Qualquer coisa pequena, só pra eu não me sentir tão completa sendo só metade. Metade de vontade, metade de medo, metade de sorriso, metade de tristeza... Metade de mim.