A terceira margem
A gente ainda é menina tímida mas tem que crescer, for-ço-sa-men-te, tem que crescer. Estica as pernas, e sai pelo mundo feito criança procurando a mãe, desamparada, com medo. E vem a vida sempre com a tentação de se agarrar a alguém, a alguma margem ainda, que não nos deixe afundar, que nos faça escapar de nossos medos. E fracos, somos vencidos pelo tentador: deixar de crescer um tempinho a mais, nos enganar e achar que o mundo é mesmo cor-de-rosa e que tudo aquilo que disseram nossos pais era falho e o mundo para nós, só para nós pode ser colorido. Nos enganamos, sim permanecemos criança em meio a fantasia. Adiamos o inadiável, e aumentamos a nossa desilusão futura. Crescer é agora, é já, não se pode olhar o mundo pela janela e pensar ter a sorte que muitos não tiveram...a vida vem gritando lá longe...e a gente ouve e finge não ouvir, sabe que vai chorar e quer acreditar que não vai doer, vai se machucar e acha que levanta facilmente. Então vem a vida ainda outra uma vez e grita: e já não é mais possível fingir que não se ouve, a infância acabou, impossível deixar de ver!