A segunda margem
Cheios de nós mesmos é que chegamos a segunda margem, imponentes, adolescentes, com o desejo de adolescer, e gritar ao mundo, toda nossa indignação cabível ao mundo. Somos tidos como loucos, como rebeldes, como revoltados, e há necessidade disso? Há, respondo sempre que sim, para que possamos não mais esquecer quem somos, o que almejamos, pelo que lutamos. Anos de sonhos e de planos, uma trilha só de fantasia, feita de inverdades. O primeiro namoro ou o primeiro amor, a luta entre os sexos, a tribo inimiga, as amizades apaixonantes, e acima de tudo um ego, que grita, bem alto, que se faz ouvir, e tão estridente ele grita que se faz ouvir por todos. Não vamos além dos planos, mas nos fazemos idealistas, às vezes temporariamente, às vezes para sempre e descobrimos que se não podemos mudar um mundo todo por inteiro, podemos mudá-lo em partes. Não somos postos a prova, em nada tudo permanece sobreposto a realização efetiva, e nos construímos a partir da alteridade, olhamos o outro e nos vemos, não como ele, mas como ele nos vê e se somos bons, então somos bons pra sempre, e se somos maus, o somos também para sempre, porque não foi nossa escolha, não é nossa essência, é só aquilo que o outro pensa de nós, mas nós ainda não sabemos...