memória

Todos planejam e organizam.

Para nós, donos das metáforas,

Cabe o cúmulo de imaginar

O eterno apodrecimento.

Quando nascemos,

Para as novidades da vida.

Já não mais crescemos, simplesmente.

Na rotina, cometemos o erro de desvendar os mistérios.

E no fim é para lá que vamos.

Sabemos todo, o que somos até o fim.

E após, só mau cheiro e descrença.

Memória, talvez nas palavras.

Não me curvo para a vida,

Num oferecimento oculto.

Homem, já apodreço.

É o preço que pagamos,

Por saber que é para morte que vamos.

Nascemos traídos,

Pela própria vida que vivemos.

Depois de ter morrido voltei,

Sem ter sequer ido.

Não entendo como posso,

Nem como abraço e beijo.

Adeus imortalidade.

Que seja na memória dos outros

A minha morte eterna.

(jun/87)