Talvez

O jovem leva uma faca e um crucifixo...

... Na cabeça, palavras sagradas, trechos bíblicos

De Deus só quer o perdão, antes um ofício

Trabalhar, fazer algo que ainda não fez, mas está prestes a

Ficar sem dinheiro, faminto; uma vida sendo desconstruída

Entorpecido naquela rodada de narguilé, pensa em

Cometer algo sádico naquela vaca indiana

Sagrada, Nova Delhi... Me chamo Anando, sou filho do embaixador

Qual o meio de conquistarem a audiência?

Vejo um rosto enorme de Rushdie, eles o querem!

“Os filhos da meia noite”¹ chamam a atenção para sua dor?

Não se matam vacas sagradas por aqui, meu senhor!

As palavras do velho, ecoaram em minha mente

E o “coração manteiga” desse ruminante servi-los-á de matéria-prima

Mas, eu sou brasileiro, carnívoro e delinquente

Cortando, feito faca quente, através da manteiga fria

Quem diria... Minha boca está atormentada por causa do calor

Sombra, para me descalçar, guardar meu prazo, sede!

Sede, meus amigos estão famintos e sujos

Mandá-los-ei se banharem no Ganges, pentearem os cabelos

Cearemos pão; reveladas as fotos, nas paredes da entrada fixadas serão

Unhas pintadas, molduras e fósforos acesos clareiam minha percepção

Vela, tão perigosa e esta é a minha penitência, minha inocência?

Era minha tarefa, eu fiz e eles me perguntaram:

Por que fez isto?

Por ter dado certo da primeira vez!

E precisava fazê-lo, mais de uma vez?

A agonia de um homem traz deleite à outro homem, talvez...?

*Salman Rushdie é um autor indiano.

Dentre suas obras destacam-se:

¹“Os filhos da meia-noite” (1981) e “Os versos satânicos” (1988)

Marciano James
Enviado por Marciano James em 02/06/2012
Reeditado em 09/06/2012
Código do texto: T3701805
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