Havia muitos livros, um chamou minha atenção; a capa era interessante.
Comecei a folhear cada página e nada havia nelas, não havia sequer um ponto.
Fechei o livro e pensei que ele deveria ser lido pelo coração, pela alma e não com os olhos.
Quem sabe não era um conto de fadas, uma fábula encantada visível apenas para a alma?
Então novamente abri o livro e senti com o coração suas páginas. Toquei com a alma cada folha.
Não havia príncipes, sapos, princesas, cavalos alados, unicórnios, fadas, elementais, crianças, homens, mulheres, construções, destruições, paisagens. Nada havia naquele livro, nenhum encantamento e nem desencantamentos.
Era apenas uma capa interessante com várias páginas em branco.
A única peculiaridade daquele livro é que nada pode ser escrito e nem lido em suas páginas.
É uma ilusão de óptica que apenas pode ser aceita ou não.
Ponderei muito até concluir que tal livro só tem como objetivo ocupar espaço em prateleiras empoeiradas.
Como sou amante de livros, ainda que este em especial, nada seja além de uma capa sem conteúdo algum, guardei-o na estante da minha memória e esperarei pela poeira, que logo limparei, pois sou alérgica a pó.
Nunca deixarei de dar a ele o merecimento de que fez com que por um tempo, enquanto o folheava, sonhei em descobrir alguma história, fato, qualquer sinal.
Aquele livro me fez esquecer por alguns breves, mais preciosos instantes, de outras coisas e me fez ficar alegre ao folheá-lo.
Talvez o objetivo daquele livro, além de acumular poeira, seja o de alternar momentos de agonia por instantes de parciais esquecimentos, isto tem um valor inquestionável.
Um dia, sei que muito breve, se é que já não está ocorrendo, o tal livro será esquecido totalmente e nem mesmo poeira acumulará, porque minha memória é seletiva e nela não cabe um livro em branco, mesmo que com uma bela capa.
Uma pena? Não! Um privilégio que a poucos é dado e fui contemplada, nada mais que isto.