JOGANDO PRA PLATEIA
Eles não se cansam:
estão sempre enunciando medidas e projetos
Basofias, apenas vernáculos que não dizem nada!
Pífios, pífios e gatunos
Trazem estatísticas recheadas de gráficos
Pífios! mil vezes pífios!
Não tardará, não tardará, eu sei
Ora, direis meus amigos outrora nunca antes imaginastes
Que mesmo ao rei, outrora se cassou a coroa
E a guilhotina cerrou séculos de exploração e rapinagens afora
Os tempos renovados de passos à praça ocupada,
se não calou o mandrião, ao menos exibiu sua farsa perfumada à colonia
Ora!, pois, meus amigos
Eles já não ignoram, eles já não nos ignoram
Sabemos que a vitrine está embaçada,
porém, não nos iludamos:
sempre haverá o maquiador para que a donzela não veja suas rugas
e o desfile possa ser notado e aplaudido
Assim, eles pensam
e assim agem, banhados na sordidez do trono,
enquanto, no chão, famintos dormem na noite fria
Um quê, apenas um quê de desobediência
e eles não sabem o que fazer,
eles temem, eles temem que a vitrine se quebre
e se revele a pocilga antes ocultada pelos cristais
Não!
gritemos, não!
Não nos calaremos,
por nossos ancestrais
e pelos nossos herdeiros,
Não!
não nos calaremos
Que as paredes não suportem nossas vozes,
e também as louças e talheres argentum
não mais comporão os banquetes
Eles sairão,
eles sairão
e nosso baile atravessará noites e quintais
e o canto do galo, límpido e melódico
adentrará nos ouvidos
como promessas de amor eterno