foto - Ilha de Anacapri

 

Napolitando

                                    

                                               
                                                 

Napolitando ando desde que andei amando a lua nos versos dele. Ele a transpunha em mil faces, cheias de si, novas de cios, minguando fêmeas certezas, prenhe de luminâncias, como nuvem - indo e vindo - ele a desnudava e a cobria. Vi tantas Marias, mães, marés, el mare, la mère que dei de falar com a lua - Luna Rossa, bem podias trazer a força dos meus ancestrais,  mostrar-te plena, sobre os céus de Capri. Leve o teu  "ne me quite pas" a e esse pierrot lunaire e quando ébrio estiver, traga-o para o querer mais mediterrâneo onde sonham peles morenas com castanhos desejos e olhos de amêndoa. Derrama, piano...molto piano, tuo profumo junto ao mar, mas lembra: Sê piedosa, que o amor do homem se faz maduro, contemplando tuas faces...e a lua disse: Mobile e volátil sou, assim como tu ! e atrás de uma nuvem se escondeu. Vi Nápoles e seus labirintos -  rainha do excesso, andrajosa, rude e aristocrata, que declama e insulta, ama e odeia entre o subterrâneo fogo e o mais belo mar. Quis morrer ali, como todos os napolitanos: irrecuperável, arruinada e feliz.  Na escuridão da praia, segurei a areia dourada que escorria entre meus dedos e pensei: "Que reste- t-il de nos amours, que reste-t-il de ces beaux jours..." e a luna Rossa de novo se mostrou. Compadecida, deu-me esses versos horizontais, indo e vindo no céu negro da minha palavra, cobrindo-me de afeto onde línguas se misturam ao sabor de um estranho  dialeto. Entre intempéries de sedução, lava de vulcão, fez-se um desejo molto lontano, allegro ma non troppo - luz de verão, Strombole, tropicais lampejos, um homem uma mulher, torpor, ternos vendavais, beaucoup d'amour e outras mumunhas mais "...que reste- t-il de nos amours, que reste-t-il de ces beaux jours...un souvenir qui me poursuit sans cesse."



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*Que reste-t-il (canção francesa) - O que resta dos nossos amores, o que resta daqueles belos dias... uma lembrança que me persegue sem parar.