O INSTANTE

Por Carlos Sena

Queria muito pegar o INSTANTE. Aquele momento fatal em que a gente tem vontade de agarrá-lo e prendê-lo nalgum lugar que SE tenha certeza que ele não vai fugir, nem que alguém poderá soltá-lo. O INSTANTE, imagino, talvez seja a nossa grande derrota diante de tanta coisa grandiosa e moderna que conseguimos, enquanto civilização construir, dominar, prender. O INSTANTE não. Ele escorre pelos nossos dedos como água da fonte. Desafia-nos. Torna-se dono de tudo e, ao mesmo tempo nos deixa com a certeza de que não somos donos de nada. Queria muito pegar o INSTANTE e dizer pra ele do estrago que faz em nosso rosto com o passar do tempo. Dizer também do seu poder positivo de transformação quando nos permite somar experiências que nos levam ao desfrute de uma vida melhor... Se eu conseguisse pegar o INSTANTE e prendê-lo, certamente iria ver a rosa no momento exato de desabrochar; flagrar os cabelos pretos na hora exata de ficarem brancos; fotografar o exato momento que a mulher fecunda um filho. Ver a fruta no pé no real instante de passar do verde para o maduro. Ver as estações se entregando mutuamente como amantes que se entregam no momento certo das paixões.
Queria muito pegar o INSTANTE e prendê-lo como a policia prende um bandido e o encarcera. No cárcere, o INSTANTE se rebelaria? Pelo princípio da sabedoria, o INSTANTE é a parte indivisível do ser. Irmão gêmeo do TEMPO o instante é isto que me lês, mas que já passou. É o sentimento do futuro que também já passou. É a presença do nosso hoje com o sabor dos nossos ontens, como que comprando o bilhete do trem da existência que quando a gente pensa que vem já se foi embora...