Agonia
Minutos agonizantes, lentos, amorfos arrastam-se na madrugada.
Horas estáticas com roupagem de luto cerca o viver de soluços.
No silêncio que amplia o vazio vagam pobres corações singulares.
Ousados fantasmas se avizinham sem pressa de ir embora.
Acomodam-se nas entranhas solitárias em busca do pranto.
Almas esquecidas nas esquinas da indiferença renegadas aodesamor contínuo perambulam as vias do abandono.
Famintas e sedentas vidas vagam caladas nas largas ruas do nada.
Desbotadas imagens juntam-se no cenário para plantar a angústia nas fundas covas da decepção sob as pesadas pás da terra da melancolia.
Sepultados prematuramente os mais singelos sonhos, sobram os desenganos mesclados de lágrimas abafadas
no entediante amanhecer.
Tudo muito igual, sem açúcar ou sal na infinita linha reta da solidão.
Sufocados muitos gritos nas cortinas da postura - insanas atitudes impostas pela obrigatoriedade da aparência de felicidade.
Olhos cansados, corpos entregues, esperanças perdidas, sorrisos aplacados, medos expostos, resignação assumida na convergência do conformismo sob as luzes apagadas à espera do dia.
Agonia...
(Ana Stoppa)