Estás com medo?!
Não te assustes... Perdoe-me por te fazer não mais acreditar, mas a verdade é sempre melhor do que a ilusão. Melhor, só quando a própria ilusão se torna verdade. Perdoe-me se meu interior é podre e sujo. Perdoe-me se te causa asco ver as minhas feridas. Perdoe-me se a minha realidade destrói a tua ilusão, tão imensa que engole a tudo e a todos não sobrando nada além do teu próprio umbigo, que pra ti parece tão limpo, mas é podridão e imundiça como outro qualquer. Perdoe-me se as minhas limitações te obrigam a perceber que tu também as tem, e por tanto tempo guardou-as escondidas como se nada fossem, como se nem ao menos existissem. E elas fazem festa dentro do teu coração como porcos no lamaçal. Mas teu coração não tem janelas, nem mesmo os teus olhos, já frios, deixam que se veja através deles, e tu usas isto a teu favor. Finges que não vês, que não sentes, e acusas aqueles pobres coitados que tentam, quase sem forças, permanecer fiéis ao que realmente são, ainda que seja feio, que seja sujo.
Olha primeiro pra tua sujeira, abre o baú das tuas imundices e depois, só depois que tudo estiver limpo, estiver perfeito, vem olhar aqui pra mim. E não te pertubes se, quando aqui estiveres, perceberes que a minha bagunça é até limpa comparada ao mundo debaixo do teu tapete. Mas vem, prometo que te receberei de braços abertos e não guarderei rancor de toda a injusta humilhação que impuseste sobre mim.
(01 de Agosto de 2008)