BRAÇOS CRUZADOS

Quem é aquele que levam?

Perguntou curioso, o dono do bar.

Sei não, distraído e desinteressado,

respondeu o rústico operário da construção

É mais um dos baderneiros, desses bagunceiros

que levam a vida à toa à toa, sentenciou

outro que acabara de chegar

É...é isso mesmo! tem razão:

eles vêm falando coisas que pensam que a gente não sabe,

claro que a gente sabe que o salário é pouco, o trabalho muito.

A gente sabe que a escola não ensina,

a gente sabe que ela treina a gente pra trabalhar mais e ganhar menos.

São uns sabichões mesmo. Eles pensam que a gente é besta. São uns pobres coitados, isso sim. Eles vêm com esse negócio de reivindicação, de aumentar salário, diminuir jornada, melhorar as condições de trabalho...

Nossa, eles pensam que é fácil? Não sabem o quanto é duro segurar o emprego. Sabe, esse que levam, ele mesmo, ficava toda semana falando que não podemos aceitar tudo calado, que não tem patrão bom, que o que ganhamos fica tudo no armazém do patrão...O que ele pensa que somos? Pensa que somos desonestos? Não! isso, não! A gente pega fiado, então tem de pagar, não é mesmo?

E todos concordaram.

Quem é aquele que levam?

É o Jeremias, respondeu alguém, com a voz embargada.

Por que? vozes perguntaram

Porque ele falava que a escola não ensina, que ela treina pra trabalhar mais e ganhar menos...essas coisas, que o patrão não gosta.

Também! o Jeremias sempre teve a língua solta. Não sabe ficar calado. E mais, não tem essa de a escola não ensinar nada, que ela treina pra trabalhar mais e ganhar menos. Não é verdade. A escola treina pra gente ganhar menos porque trabalha mais. É a lei da compensação. Não sabem o que é isso?

Quem é aquele que levam? aos gritos ouviu-se de novo a pergunta.

É o Giraldino. Giraldino, o bigote, da fábrica de tinta. Também, ficava falando que a gente ganha menos porque trabalha mais, que a doença do pulmão dele, era por causa das tintas. Boa gente, mas burro. Não sabia que patrão não gosta disso

Quem é aquele que levam? Perguntou-se pela vigésima vez.

E não se ouviu uma lembrança de palavra. O patrão tinha vencido: todos se calaram. E sua riqueza triplicou, e a pobreza também.