Dia de Branco
Levantei-me cedo na manhã de hoje, o dia estava tranqüilo, o ar estava úmido e o vento estava frio, fato comum, logo que nesse mês de maio, aqui no estado da Bahia o friozinho do inverno assola. Olhei meu rosto no espelho, três espinhas verdinhas brotando... Que chato! Lavei o rosto vagarosamente, voltei à cozinha para por a chaleira no fogão. Café ralo e doce seguia-se rotineiramente.
Vestir a minha roupa básica de trabalho, que é jeans e uma blusa de manguinha branca, sapatilha singela e surrada. Pronto! Mais um dia pela frente, o mesmo trajeto diário... Chegando ao ponto combinado de condução (pois o trabalho é num povoado da minha pequena cidade natal, o percurso dura mais ou menos 1 hora e 15 minutos se o motorista for bom e precavido), fico aguardando a chegada dos outros colegas de serviço, a equipe é composta por seis profissionais de nível superior da saúde, porém, só três trabalham semanalmente que são; Enfermeira (eu), o Dentista e a Médica. Para chegar ao nosso destino e cumprir com nossas obrigações profissionais, passamos todos os dias por diversos problemas, alguns diriam até que inimagináveis. Muitas vezes a falta de transporte, de motorista, de gasolina entre outros, faz com que perdemos vários dias de serviço.
Ao longo do percurso a paisagem rural da caatinga baiana, vai se desdobrando, entre a visão “serrana” que aqui também é forte. E assim todos os dias, enfrentamos a subida da serra que fica no caminho, vemos casas de taipes em ruínas, dando lugar as novas casas de blocos, mais sólidas e confortáveis, árvores nativas, em galhos, “peladas e secas”, adornando a paisagem bucólica do sertão. É que a realidade paulatinamente vem sendo modificada.
Criação bovina e caprina, galinhas e pavões, todo tido de bicho rondando o terreiro das casas, as senhoras alimentando-as com milho na bacia atirando no meio da galinhada. A gente passando, cumprimentando com a buzina do carro.
Dentro do veículo debatemos sobre as dificuldades na saúde pública, um diálogo cansativo e enfadonho como uma nota sem fim. A falta de condições para um trabalho humanizado e de qualidade, que permeiam as gestões municipais, deixam nossos ânimos rebaixados.
Chegamos ao nosso ponto final no meio da manhã, colocamos o nosso jaleco empoeirado da estrada, descemos do carro, aqueles olhinhos sobre a gente, sorrindo para a resposta de um bom dia carismático, que no fundo dizem “que bom que vocês chegaram”, pegamos nossas fichas da recepção, colocamos debaixo do braço... Pode entrar seu João, como tem passado?
Mas essa é só uma manhã de um dia de branco, distante do resto do mundo, desconhecido e sem importância.