MEU PAI E MINHA MÃE

Evaldo da Veiga


Em 1982 meu pai fechou os olhos e se foi,
mas não morreu. Ao menos pra mim.
Mãe é, quando é...
Quando não é, só falta não ser,
ao menos pra mim.
Meu pai sempre leal, nunca mentiu,
dizia as coisas como eram de fato,
ao menos pra mim.

Minha mãe dizia que não se agüentava em pé,
que estávamos acabando com ela,
um pouco depois,
estava na cerca conversando com a vizinha.
Uma vez disse que o médico
só lhe dera um mês de vida,
eu com idade de cinco anos fiquei triste,
ela não era minha amiga,
mas também não precisava ir tão cedo.
Queria que minha mãe ficasse mais,
nem sei o porquê...

Passou um mês e muito mais,
e até hoje minha mão não se foi;
meu pai a vida se precipitou, levou antes, por quê?
As mentiras constantes que ouvi, machucou minha alma,
vindas logo de quem eu só esperava verdades.
Décadas de mentiras, nunca acostumei...
Mas também, já não sabia se eram mentiras,
ou uma verdade distraída,
verdades que alguns viam, menos eu.

Tive meu pai e nele tive muito, nada a reclamar...
Tudo que lembro dele me dá orgulho,
mas mãe faz falta; principalmente a mãe que não se teve,
a mãe idealizada.
Minha mãe já perseguiu meus cães, meus bichinhos
e até aos meus filhos.
Se justificou e enganou a todos, menos a mim.

Na vida tem o lindo e o feio.
Sempre vi e vejo o lindo, muita beleza,
sem ignorar a existência do feio.
Temos também um baú, 
com sua capacidade de hospedagem regulada,
É necessário remover o que é feio e o falso.
É imprescindível mostrar verdadeiros valores,
ao menos pra mim, e para os que eu amo.

Amo minha mãe, quero o seu bem
Mas como amo uma mãe que queria que fosse diferente,
quero dela é distância, uma parte de querer que considero triste, mas é minha parte na vida.

evaldodaveiga@yahoo.com.br