No seu coração
Olho, da janela do meu quarto, a chuva caindo fininha no jardim. E vejo as gotas pequeninas acariciando as folhas e as pétalas das flores.
Faz frio lá fora. O vento ausentou-se. E sua ausência, acredito, faz o ar gelar.
Arrepia-se minha alma e meu corpo estremece nesta sensação de ausência.
Desejo então seus braços em volta de mim, aconchegando e sua respiração suave e morna aquecendo-me agora.
Desejo ir me enroscando e encolhendo até caber em seu coração.
E despertar como criança, correndo e brincando de esconde-esconde entre ventrículos e aurículos e deslizar pelas artérias como se fossem corrimóes de escadas vibrantes
Fazer roda de mãos dadas com todas as alegrias que foram guardadas com carinho.
Descobrir seus desejos mais secretos; espalhar as recordações, rasgando as amareladas pelo tempo e como uma bruxinha travessa, libertar os sonhos para que voem como pássaros e encontrem seu destino...
Ouvir e ouvir até que se esgotem, os soluços que ainda ecoam pelos músculos doloridos.
E, por entre as teias de minúsculos vasos, desnudar-me lentamente, como dançarina indiana, ao som das batidas ritimadas de sua emoção.
E por fim adormecer, num coração apaziguado, na penumbra do prazer.