[05h26 - A Solidão do Lobo]
[anotações ligeiras]
Um lobo solitário. Sob a galharia morta do esqueleto do que antes fora um cedro, aquele uivo longo, colina abaixo. De onde vinha, e para onde iria o lobo quando a lua enfim desmaiasse no horizonte, quando os meus olhos insones enfim repousassem do ardor da noite em claro.
Milhares... milhares de anos atravessam-me quando revejo aquele grande lobo, quanto reavivo o terror que o seu uivo infundia em quem o espiava, de longe, pelas frestas da janela rústica da sala da fazenda. Um terror de fundo de caverna escura, e fria, fogo quase se apagando... A solidão de quem vive na cava de si mesmo...
Lobos assim andam no mundo, cruzam a terra inteira... talvez procurem alguém que os mate... que os liberte de sua solidão... aonde quer que eu esteja, não há como fugir: aquele lobo ressurge sempre... invade o meu sono, inquieta-me. Eu luto as minhas lutas desesperadas, uma refrega interminável, e sem quê, nem por quê. Chego a ter náusea do desejo que me assola o corpo...
Minha solidão... maior é a ânsia, maior é o desejo atroz da carne revolta, e mais a solidão me maltrata! A minha solidão é a solidão do lobo! Tarde demais na vida, eu descobri o terror que o lobo me causava: o terror de me encontrar comigo mesmo, com a minha solidão... e como sempre, desarmado!
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[Desde o meu Desterro, neste 20 de maio de 2012]