Uma força que origina-se do mar
Meu corpo queima, coça, causa-me aborrecimento, fica inquieto. É resultado da depressão, que me derrubou desde ontem, mas também é culpa de um querer que mal cabe em mim e que faz minha alma gritar e desejar ser salva, quiçá. Deseja que todos os oceanos escoem e que, dantes, se juntem com o meu suor, com o meu mel, com as minhas lágrimas, enfim, com todas as moléculas que ocupam meu ser.
Noto que vivi alguns dias sombrios, com as escotilhas fechadas, seladas, pensando (tolamente) que assim permaneceria segura. Segura de quem? De mim? Dos meus receios? Mas eles estavam ali mais presentes, à espreita, com gumes amolados que me cortavam sem comiseração. Hoje senti aquele desejo libertador de me abrir novamente, toda, sem receio, como dantes. Deixar-me-ei completamente aberta, o dia inteiro.
Quero sentir o frescor da brisa, os pingos da chuva baterem na minha face, contemplar o sol que começava a aparecer ainda acanhado, com direito a arco-íris e tudo! É como se tudo me falasse: "seja bem-vinda de volta ao seu universo" e eu me limitarei a apenas sorrir, agradecida, assegurando a mim própria que sorrirei mais vezes, muitas, pois se a alegria é breve e disso nos lastimamos, deveríamos agradecer pelo fato de também a tristeza durar pouco, mas não... Vivemos nos lembrando da parte poluída do mar, sem celebrarmos que grande parte dele, límpida ainda se preserva, aliás, como a humanidade.