Mea-culpa

Mea-culpa

Há alguns anos, namorei um cara muito simpático, inteligente, informado, culto, bonito, estabilizado, socialmente agradável, cheio de conclusões sobre a vida e sobre as pessoas. Com ele, tive sonhos maravilhosos, pensei em ser esposa, mãe, nora, cunhada, tia... Questionei valores religiosos, políticos, sociais. Cheguei mesmo a questionar a vida.

Tive, ao seu lado, boas oportunidades. Algumas eu alcancei, outras não. Ele também teve boas oportunidades ao meu lado, algumas ele, também, alcançou, outras... também não. Hoje, enxergo que isso é coisa da vida. Fomos parceiros em momentos críticos. Contei segredos, me abri. Ele também. Fomos cúmplices, planejamos sonhos, planejamos vinganças, nenhum deles, todavia, chegamos a concluir.

O tempo, as coisas, os fatos, as pessoas e, em especial, a situação nos afastaram. Em um momento muito complexo (mais para a vida dele do que para a minha), nos afastamos. Magoados, nos xingamos, nos desejamos mal, nos destruímos por dentro e por fora. O tempo passou, a vida mudou, completamente para mim. Para ele, ainda não sei se totalmente.

Mas, com tudo isso, com todo esse passar e pesar, ele se transformou em alguém que eu jamais ousei pensar: covarde, mau, mau-caráter, desonesto, vingativo, perseguidor, insensato, destrutivo.

Por causa disso, hoje, vivo uma doença: síndrome de perseguição. Antes, só havia ouvido falar dela em televisão, e olhe lá. Chegava a pensar que ela era pura criação das cabeças loucas das pessoas loucas. Meio como a depressão, que, hoje em dia, é utilizada por qualquer preguiçoso. Mas, não. Ela existe mesmo, é séria, e é uma invasão do corpo e, especialmente, da mente. Atrapalha a vida da pessoa em vários quesitos. Atrapalha os relacionamentos sociais, sobretudo. É desesperador.

Estou sobrevivendo.

Aos poucos, tomo consciência do meu estado.

Aos poucos, consigo racionalizar sem me desesperar perante as perseguições.

Patrícia Rodrigues Tchuka
Enviado por Patrícia Rodrigues Tchuka em 10/05/2012
Código do texto: T3660928