BILHETE.
Na tarde fria e de matizes multicoloridos, podia ver e até tocar de forma quase tão concreta a saudade como se pudesse (re)viver cada momento.
Sentou na abóbada do horizonte que se enfeitava de astros a espera da maior lua cheia do ano, viria mais brilhante e maior,tal qual as lembranças que afloravam devagarinho,como que fugindo sorrateiramente do embrulho já amarelado da alma.
Era outono e a vida parecia nessa estação, ficar em um limiar de quase adormecimento, entre o calor e a cor do verão já ido e o frio desbotado do inverno vindouro.
Fechou o casaco, buscando se preservar do vento ou talvez das lembranças.
Mas em uma espécie de quase transe pode rever em sua mente o que desenhara em um papel rasgado de um caderno qualquer há muito tempo encontrado e perdido.
Um recado endereçado ao ser amado, talvez como uma súplica, talvez como uma premonição.
Meu amor, te peço que se algum dia tiveres que me deixar, que o faça de forma rápida, como em um tiro certeiro de misericórdia.
Não saías lenta ou sorrateiramente de minha vida, de maneira fugídia, não tente ficar requentando sorrisos e emoldurando lágrimas.
Apenas vai e não se esqueça de deixar a porta entreaberta,pois quem sabe dessa forma a vida em algum momento possa novamente querer entrar...
Ainda envolta em saudade quase real, dobrou novamente o papel que trazia intacto na mente,apesar de esvaido pelos dias e se colocou a fitar o firmamento, aguardando quem sabe uma resposta para aquele bilhete.
Márcia Barcelos.
05/05/2012.