Luciano Manoel Machado

LUCIANO MANOEL MACHADO

Meu amigo e irmão LUCIANO!

“Ao poeta cabe o ofício de verbalizar as entrelinhas da alma!” Foi exatamente nesse sentimento, que me coloquei diante das emoções e de coração aberto para falar um pouco sobre você. Nossa infância fora marcada por significativas alegrias e emoções, vivenciadas junto à Casa Paroquial, sob os olhares carinhosos e cautelosos do inesquecível Padre Ênio Fazôllo. Éramos vizinhos; nossos quintais não tinham muros nem cercas que nos separassem. O que plantávamos de verduras e frutas era colhido como se colhe a flor num canteiro de praça.

As frutas do quintal de Dona Penha Brandão eram nossas favoritas. Ela sempre austera e nós sempre burlando suas ordens e degustando deliciosas jabuticabas e limas. Quanta saudade das inúmeras brincadeiras de crianças que nos movia e nos enchia de prazer lúdico, pois não havia nada que concorresse com o sabor e o prazer de estarmos juntos, quer seja estudando, quer seja brincando ou atuando como coroinhas e servos do Reino de Deus. Nossos caminhos se cruzaram exatamente no ano de 1976, quando assumira a paróquia o tão amado , humilde, simples e sincero Pe. Ênio. Foi através dele que nos encorajamos e mergulhamos na construção de valores éticos, morais e cristãos que fazem parte de nosso vida, pois a sementinha lançada por ele, germinou, brotou, cresceu, floresceu e morreu. É preciso morrer para nascer de novo! Nascemos a cada amanhecer, a cada aurora!

Morremos por um tempo, vez que nos afastamos por circunstâncias da vida, porque fui para Vitória sequenciar meus estudos, mas nunca deixamos de sentir e cultivar esses elos de amizade e amor. Há um tempo para tudo debaixo dos céus! Houve o tempo da infância, da adolescência que vivenciamos juntos. Depois houve o tempo da separação, para que cada um fizesse suas escolhas de vida e depois o tempo do reencontro. O nosso reencontro foi marcado pela sua gana e determinação em dar passos na direção desejada, mostrando-nos que Guaçuí, terra de amores e de mil esplendores, precisava virar a página e escrever a sua história pelas mãos de um homem jovem, capaz e disposto a fazer de nossa terra uma cidade de flores que respondessem o que as palavras ainda não sabiam perguntar. Juntos, fomos militantes políticos , aguerridos, corajosos, até mesmo atrevidos em enfrentar os poderosos e lutar contra um sistema corrompido e cheio de resistências ao novo, ao ideal jovem e audaz.

Enfrentamos juntos as dificuldades de sermos filhos de gente simples, de famílias pobres, trabalhadoras , mas cheias de expectativas , vislumbrando um futuro melhor para nós, seus filhos. Tivemos desafios, percalços, críticas, mágoas, tristezas, mas nada disso nos separou. Hoje, somos grandes amigos e irmãos. Você, afilhado, dos meus pais, só poderia ser movido pelo amor, pois foi através do amor que nossos elos de ligação tiveram origem. Foi no amor à família e a Deus que percorremos longas distâncias, passamos por desertos e hoje podemos dizer que nos encontramos num lindo jardim de flores da nossa Guaçuí – cidade menina, cidade de flores, terra de mil esplendores. Às vezes, tivemos que silenciar nosso coração , poucos entenderam esse silêncio, mas nós sabemos que nesse silêncio mútuo, pudemos saborear o gosto do respeito, da verdade e da amizade . Essa amizade que nos une é fruto perene de uma antecipação do tempo, pois sentimos dores, mas foi pelas dores que crescemos e fizemos com que as sementes lançadas por Padre Ênio voltassem a germinar , crescer e florescer aos olhos dos que não acreditam no perdão. Perdoamos nossos erros. Aprendemos com os erros e amadurecemos; nos tornamos mais fortes, mais felizes, mais humanos, mais sensíveis ao clamor de uma gente que anseia por uma sociedade mais justa, fraterna e cidadã. O nosso amor de amigos e irmãos, sobreviveu às intempéries do tempo; sobreviveu de esperas. Soubemos esperar o tempo de Deus para calar e para falar. Esperamos o tempo para atirar pedras e depois ajuntá-las. Essas pedras foram fundamentais para a edificação e sustentação de nossa amizade. Hoje, o nosso tempo é de colheita; de construção; de sorrisos e de paz. Saboreamos um tempo de flores; enfrentamos o inverno, com a frieza dos covardes e dos que destroem; desafiamos o outono com a perda das folhas; contemplamos a beleza das flores durante a primavera e nos aquecemos durante o verão.

Seu lugar em meu coração, de meus pais e irmãos, é a cadeira de número 1, por tudo o que você representa e por nos mostrar que pela sua simplicidade, conseguimos ousar a trilhar os caminhos da maturidade. Juntos aprendemos a lidar com o desconforto da verdade, eliminando a comodidade da mentira e da hipocrisia que assola grande parte de nossa sociedade, infiltrada e camuflada nos bastidores da política.

Quiçá consigamos a viver buscando a fim de que nunca paremos de chegar. Queremos chegar em todos os lugares que um dia sonhamos. Oxalá possamos olhar para trás e dizer que tudo valeu a pena, pois nossa alma não foi, não é e nunca será pequena. Fomos grandes, semeamos o amor que herdamos de nossos pais e somos responsáveis pela colheita de frutos perenes. Cuidemos de nossos jardins! Você me ajuda e eu te sustento em sua caminhada! A voz que ecoa de seu coração é suave aos nossos ouvidos, é uma bênção para nós!

Obrigado por fazer parte de nossa história e por nos ajudar a escrever a nossa história com afinco, dedicação, com silêncio que grita aos nossos ouvidos e clama por justiça, igualdade, fraternidade e respeito. Queremos fazer ressoar a letra daquela música que aprendemos com Pe. Ênio, em seus incontáveis discos de vinil:

“Para ser feliz é preciso ter

Esse céu azul na imensidão

É fazer das tristezas estrelas a mais

E do pranto uma canção!

Há um mundo bem melhor

...Todo feito pra você

É um mundo pequenino

Que a ternura fez!”

Que minha ternura chegue até você e diga , suavemente, aos seus ouvidos: “Você é meu amigo de fé, meu irmão camarada! Amigo de tantos caminhos, de longas jornadas. Cabeça de homem, mas um coração de menino. Amigo, você é o mais certo nas horas incertas!”

Carinhosa e fraternalmente,

WEBER JOSÉ VARGAS MÜLLER.

Em, 01 de maio de 2012.

Weber José
Enviado por Weber José em 05/05/2012
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